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CAPÍTULO 5

- Muito bem professor – falou o amigo de Mari, operando o equipamento de termoluminescência, já que o profissional responsável estava em seu dia de folga -, agora introduzimos o artefato no equipamento para aquecer a amostra até que a termoluminescência seja liberada. A intensidade da termoluminescência nos indicará o tempo transcorrido desde a última vez em que a amostra sofreu aquecimento. No caso de uma cerâmica, ou de sua tábua de argila, ela foi aquecida durante sua fabricação. Assim, a intensidade da termoluminescência irá fornecer o tempo transcorrido desde que ela foi aquecida pela última vez. Com este método, podemos datar objetos de até 1 milhão de anos, com precisão de até 10%! – Ele falava de seu equipamento como alguém que foi pai depois dos 40 anos fala das gracinhas de seu filho. – Agora, no monitor temos um gráfico com o resultado. – Apontou para o pico do gráfico – Não é possível!
- O que foi? – Perguntei.
- Deve ter acontecido algo errado, vou tentar novamente.
O operador ajeitou novamente o material e realizou outro teste.
- Professor, o senhor não teria uma amostra do solo ao redor de onde o artefato foi encontrado? – Perguntou o amigo de Mari - Poderíamos utilizar como comparação de parâmetros, pois os resultados não estão claros.
- Quais foram os resultados? – Perguntei.
- Bem, realizei o procedimento duas vezes e, ambos os testes, estimaram, sua tábua de argila com 176 mil anos, um absurdo. Logicamente que temos uma margem de erro de 10%, mas ainda assim, não faz sentido.
- Não faz mesmo. – Respondi, impressionado.
- Onde conseguiu este material, professor?
- É uma longa história. Mas, em todo caso, obrigado pelo esforço. – Falei pegando a tábua novamente.
- Se o senhor quiser deixar esta tábua para realizarmos testes mais aprofundados...
- Não! Não, obrigado, já foi suficiente. – Falei já saindo da sala com a tábua de argila em meus braços, sentia uma estranha obrigação em proteger aquele material.
De volta ao meu apartamento em Curitiba, recebi do porteiro, a triste noticia.
- Professor Prawdanski, seu apartamento foi arrombado por ladrões.
O porteiro me explicou que, três homens armados e com capuz, o renderam, e o obrigaram a mostrar qual era o meu apartamento. Chegando lá o arrombaram e reviraram como se procurassem por algo.
- Isso aconteceu a mais ou menos há uma hora. – Continuou o porteiro - Já chamei a policia, mas, como de praxe, ainda não chegaram.
Subi ao apartamento para ver os estragos. Estava tudo destruído, revirado. Coloquei minhas bagagens sobre o sofá e sai pelo apartamento, tentando avaliar os estragos.
Estava no quarto, quando ouvi a porta do apartamento abrindo. Ao verificar, vi o porteiro com as mãos sobre a cabeça, acompanhado por três homens armados e, usando capuz.
- Mãos na cabeça professor! – Gritou o que parecia o líder.
- Vocês já não levaram tudo que queriam! – Respondi já com as mãos na cabeça.
- Não encontramos o que viemos procurar. – Falou o encapuzado – Queremos a tábua de argila, e os decalques, agora!
- Não estão comigo... – não consegui terminar a frase, levei uma bofetada.
- Não me faça perder a paciência! – Falou o encapuzado, engatilhando sua arma em minha cabeça.
- Na minha valise, a tábua e os decalques estão em minha valise. – Falei apontando para o sofá.
Senti um aperto no peito por entregá-las, mas sabia que minha vida e a vida do porteiro estavam em jogo. De repente ouvimos conversa do lado de fora do apartamento. Um dos encapuzados espiou no corredor, e falou.
- É a policia!
Finalmente, depois de uma hora e meia, a policia veio atender ao chamado do assalto, porém, sem querer chegaram no momento certo. Os encapuzados, assustados com a presença da policia, pegaram a valise que estava sobre o sofá e, realizaram uma manobra que eu só havia visto no cinema.
Prenderam ganchos nas soleiras das janelas e desceram de rapel pela lateral do prédio.
Quando os policiais entraram no apartamento, avisamos
– Os bandidos estão descendo pela parede do prédio!
Os policiais ficaram estáticos. Vendo nossa insistência, finalmente olharam pela janela, e constataram que, falamos a verdade. Um deles puxou de seu rádio e falou:
- Atenção central, precisamos de reforços no prédio...
Mas era tarde, quando o reforço chegou, os bandidos já deviam estar mais ou menos no Paraguai.
Temendo que, por alguma razão os bandidos, voltassem ao meu apartamento, pedi um taxi para me levar até um hotel. Estava cansado e abalado por perder o material arqueológico.
Dentro do taxi, somente conseguia pensar na tábua de argila.
O exame de termoluminescência estimou sua idade em 176 mil anos, aproximadamente. Apesar de não acreditar nesta datação, estava louco de curiosidade para traduzir o restante do material. Várias perguntas vinham a minha cabeça:
- Será que a datação está correta? Quem teria me enviado o material? Será que o que está escrito na carta é verdade? E a mais intrigante neste momento, como os encapuzados sabiam que eu estava com o material?