Image and video hosting by TinyPic

CAPÍTULO 21

Minha estada na pitoresca cidade Catarinense está muito agradável.
Finalmente tive sossego para me dedicar à tradução das tábuas. Estou hospedado, com nome falso e sem cabelos e barba, em um bom hotel e me apresento a quem perguntar, e muitos perguntam, como tradutor de obras literárias, o que não é totalmente mentira. Tudo estava correndo bem até que, constatei algo que me deixou terrivelmente preocupado.
Meu dinheiro está acabando.
Busquei na memória quais habilidades poderia usar para ganhar algum dinheiro, sem precisar me identificar. Sempre trabalhei na área acadêmica e com tradução de textos antigos, e, para ambos, é preciso apresentar os diplomas e credenciais, o que está fora de cogitação.
Divagando em pensamentos, comecei a questionar sobre as utilidades práticas de meus conhecimentos. Nosso trabalho diário, rotineiro, não é uma coisa que pensamos normalmente, simplesmente o fazemos. Perguntei a mim mesmo se, o que fiz até agora e todos os conhecimentos adquiridos durante minha vida tinham, de alguma forma, alguma utilidade prática para o mundo e para evolução humana.
Passamos boa parte de nossas curtas vidas estudando, adquirindo conhecimento, para depois, nos empregarmos, se tivermos sorte, em alguma grande empresa, onde passamos o restante de nossa curta vida, trabalhando em pró de algum ganho financeiro, às vezes bom. Mas muitas vezes, que nem sequer dá para pagar nossas contas. Mas mesmo assim, continuamos trabalhando.
E se ocorresse uma catástrofe, algo que precisássemos a todo custo sobreviver. Um momento em que todo conhecimento e habilidades tivessem como ponto focal a manutenção da vida. Será que meu conhecimento, aquilo que sempre fiz, no dia-a-dia, teria alguma valia? Toda aquela minha experiência, que exponho, orgulhosamente, em seu “curriculum vitae”, teria alguma utilidade prática?
Parece que algo invisível, sinistramente oculto, nos empurra, mesmo sem que queiramos, mesmo sem sabermos o motivo, mas, nos empurra, para desempenharmos aquilo que não gostamos e que não desejamos fazer o resto de nossas curtas vidas, mas que, por alguma razão, precisamos fazer... e sempre continuamos fazendo.
- Nossa. Lançaram um novo modelo de carro que preciso comprar! Mas... eles não lançam sempre?

***

O Anunnaki estava se recuperando muito bem, e agora, já podia até, sair da caverna e, mesmo com alguma dificuldade, se virar sozinho. Ninsun veio vê-lo pela última vez, já havia arrumado tudo para seguir, juntamente com seu filho, para bem longe. Havia extraído bastante sal, e não pretendia voltar, nunca mais, a esta praia.
- Então é isso - falou ela ao Anunnaki -, agora é por sua conta. Adeus!
- Como assim adeus - respondeu o Anunnaki -, porque vai me abandonar?
- Eu já fiz minha parte, agora já pode cuidar de si próprio.
- Para onde vai?
- Não é da sua conta.
- Então, deixe-me acompanhá-los?
- Como acompanhá-los. – Respondeu Ninsun nervosa - Eu estou sozinha aqui!
- Sozinha com seu filho?
O Anunnaki não tinha certeza de que o estranho menino que o visitou na caverna era realmente seu filho, apenas jogou a isca. Sabia que não conseguiria sobreviver sem ajuda nesta parte do planeta, ainda mais porque não estava totalmente recuperado, e também, porque não tinha a mínima idéia de como voltar para Eridu.
Ninsun mostrou-se visivelmente nervosa com o que o Anunnaki falou. - Como ele pode saber sobre Gil? – Pensou, mas tentou disfarçar.
- Não sei do que você está falando!
- Ele é um hibrido, não é? Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, isso iria acontecer...
Neste momento Ninsun nem pensou.
Como uma fera selvagem, pulou ferozmente sobre o Anunnaki. Apesar de bem menor, conseguiu derrubá-lo. Ele não esperava pela sua reação, e também, não estava totalmente recuperado. Com ele no chão, Ninsun encostou a ponta de sua faca de sílex no pescoço do Anunnaki, e falou:
- Se acontecer qualquer coisa com meu filho eu te mato. Eu juro que te mato!
- Sei que você não mata. – Respondeu o Anunnaki com certo receio - Vocês, os Lulus, são seres de bom coração, jamais matariam. Não se preocupe, jamais esquecerei o que me fez. Nunca deixarei que façam nada de mal com você ou com seu filho. Eu prometo!
Ele estava certo. Ninsun não lhe faria mal, mas, sabia que não poderia confiar no Anunnaki e que, a única chance que tinham era ir o máximo possível para o norte, agora com cuidado redobrado. Ela foi tirando lentamente a faca do branco pescoço do Anunnaki e, sem parar de encará-lo, começou a levantar.
Ninsun já estava quase em pé, sempre apontando a faca de sílex para o enorme ser albino, que também já começava a levantar. De repente, quando menos esperava, o Anunnaki sente uma dor terrível em sua cabeça.
É atingido por uma forte pancada, e cai novamente no chão. Indefeso, gemendo de dor.