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CAPÍTULO 18

O susto dentro da caverna foi tão grande que Ninsun caiu para traz, sentada no chão.
Ela grita, desesperadamente, para que Gil, seu filho, fuja. Sua lança fica na caverna, mas contra este tipo de perigo, sabe que seria inútil.
Mesmo na fuga, não consegue esquecer aquela imagem. Ali estava ele, bem em sua frente, deitado em um canto da caverna. Ao vê-la estendeu a mão tremula em direção a Ninsun, e suplicou ajuda. Sua voz trouxe um flash em sua cabeça de tudo que passou na cidade e, por impulso, fez exatamente o contrário, ao invés de ajudar, levantou-se virando em direção á saída da caverna, e saiu correndo cambaleante.
Ainda não acreditava no que vira.
- Como isso era possível?
Olhou para todas as direções procurando por outros
- Eles não andam sozinhos. - Pensou - Preciso proteger Gil.
Dentro desta caverna, exatamente onde Gil nasceu, lá estava ele, um agonizante Anunnaki, implorando pela sua ajuda.
Pôde ver claramente a sua brancura, os Anunnakis são albinos. Seu planeta não possui sol, portanto, não precisam de melanina para protegê-los. Também são bem maiores e possuem o crânio mais alongado que os Lulus. Ela tem certeza do que vira, não existe neste planeta nada que possa ser confundido com um Anunnaki.
- Gilgamesh, onde está você? – Chama preocupada, porém, em voz baixa, por medo que outros Anunnakis ouçam.
- Aqui mãe! – Grita Gil que está no alto de uma árvore.
Não havia dúvidas em sua cabeça, enquanto podiam, precisavam fugir. Ninsun agarrou Gil pelo braço, e o puxou correndo em direção à floresta fechada.
- O que aconteceu mãe?
- Corra Gil, não há tempo para explicações...
Os dois só pararam quando encontraram, bem longe, uma pequena caverna no alto de uma pequena montanha. Ao chegarem já era noite e os dois estavam sem fôlego, ambos sentaram no chão, exaustos. Gilgamesh estava extremamente curioso, queria saber o que havia dentro da caverna, e porque ele sentiu a sua presença, mas não conseguia perguntar, precisava respirar. Depois de longos minutos, e agora já recuperados, Gil falou:
- Precisamos voltar, imediatamente!
Ninsun não entendeu. Varias coisas se passaram em sua cabeça, especulando sobre o porquê deste desejo de Gil em voltar para perto do Anunnaki. Cada explicação era mais perturbadora que outra. Finalmente, ela criou coragem e perguntou:
- Porque você quer voltar até aquele lugar Gil?
- Porque... eu deixei lá minhas pedras para quebrar nozes.
Ela esboçou um sorriso. Como as crianças são inocentes e não vêem o perigo, mas Ninsun soube, nesta hora, que havia chegado à hora, Gil não poderia ter medo do que não sabia que existia. Precisava contar a Gil sobre os Anunnakis.
- Gil – ela falou com um tom maternal –, eu preciso lhe contar uma coisa, uma coisa que venho esperando o momento certo, e acho, o momento é agora. Sempre procurei poupá-lo disto por durante toda a sua infância, mas agora você já é um adolescente e creio que vai entender, além do mais, acho que estamos em perigo e, se algo nos acontecer, você tem o direito de saber o por que.
Ela contou para Gil a sua história, como foram criados para servir de escravos, quão cruéis são seus criadores, os Anunnakis, e principalmente sua fuga para salva-lo. Tentou ser o mais delicada possível, poupando-o dos detalhes mais sórdidos. Gilgamesh, como era de se esperar, ficou cheio de perguntas, e louco para conhecer os outros como eles, e era isso que Ninsun sempre temera. Conhecendo seu filho, tinha medo que ele fosse de encontro aos seus, o que ela tinha certeza, seria a sua morte. Para cortar um pouco as perguntas dele, Ninsun mudou o foco da conversa, e contou o que havia dentro da caverna.
- Ele está lá Gil, deitado. Parece ferido, mas poderia estar fingindo, eles são bons nisso. – Ela tomou coragem, e concluiu. - Era um Anunnaki!
- Mãe, ele não está fingindo. Ele está mesmo ferido, e precisa de ajuda.
- Como pode ter certeza Gil?
- Não sei mãe. Eu senti algo, é como se eu soubesse o que ele está pensando.
Este sentimento de Gil era muito estranho, Ninsun nunca ouvira que alguém conseguisse saber o que outra pessoa está pensando, pelo menos não sem vê-la. O corpo revela pensamentos, isso ela sabia. Alguns Lulus tem esta habilidade, às vezes parecem que conseguem ler mentes, mas, na verdade, é só leitura corporal. Olhares, gestos, expressões... tudo pode revelar pensamentos. Gil não tinha visto o Anunnaki, como poderia saber o que pensava. Imaginou se não poderia ser um truque dos Anunnakis.
Resolveu não seguir com esta conversa agora. Ajeitou um canto para Gil dormir, ele reclamou que estava com fome, mas ela explicou a ele, que era muito perigoso sair, melhor esperar amanhecer. Os Anunnakis possuem óculos de visão noturna e o que Ninsun trouxe na sua fuga, havia ficado com suas coisas perto do mar e da caverna onde está o Anunnaki.
Em pouco tempo Gil dormiu, mas Ninsun passou a noite em claro. Não conseguia esquecer do Anunnaki.
- E se realmente precisar de ajuda? Não posso deixar uma criatura sofrendo, ainda mais quando me implorou por socorro! – Estes pensamentos martelaram em sua cabeça a noite toda.
Quanto Gil acordou o dia já estava claro e, havia algumas frutas dentro da caverna, sua mãe as havia colhido em uma árvore próxima.
- Coma Gil. – Falou Ninsun – A mãe precisa fazer uma coisa.
- O que mãe? – Perguntou Gil já com a boca cheia de fruta.
- Vou ajudar aquele Anunnaki!
- Mas porque mãe, eles não são maus, merecem sofrer.
- Filho – Ninsun abaixou-se próximo a Gil e, calmamente falou -, eles são maus, mas nossa espécie é boa e solidária, ele me pediu ajuda, tenho que ajudá-lo. Põe-se no lugar dele, como você ficaria se precisasse de ajuda, e não obtivesse?
Gil nem precisava se por no lugar do Anunnaki, sabia bem o que ele estava sentindo, como se o sentimento fosse dele próprio. O Anunnaki estava com medo, achava que ia morrer, e sentia dor e muita sede.
- Mão – falou Gil -, leve água para ele mãe!
Ninsun sorriu um sorriso meio forçado. Tinha medo de não ver Gil novamente, medo de não voltar, de estar indo para uma armadilha. Deu um beijo carinhoso em seu filho, fez recomendações para que não saísse da caverna até ela voltar, e foi em direção ao Anunnaki.
Gilgamesh, ao contrário de sua mãe, não se preocupou. De alguma forma sabia que o Anunnaki estava sozinho e, pelo menos por hora, era indefeso.