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CAPÍTULO 33

A noite apresenta o céu limpo. Uma enorme lua cheia se destaca no estrelado céu de Nippur.
Era o que Enki mais gostava neste planeta, pelo menos até agora. Poder ver estrelas e esta enorme lua, coisas impossíveis em seu planeta natal e, sempre que o tempo estava bom, ficava do lado de fora da caverna, deitado de costas na areia, até altas horas observando o céu. Como não precisava dormir todas as noites, por vezes amanhecia observando o movimento dos astros.
Gil gostava de acompanhá-lo. Já fazia algum tempo que o Anunnaki estava com eles, suas feridas já estavam praticamente curadas, logo ele deveria ir embora, mas Gil não pensava nisso, ele gosta de Enki, é como o pai que ele não teve. Ninsun também estava mais tranqüila em relação a ele, afinal, ainda não havia feito nada que pudesse preocupá-la.
- Gil – falou Enki, que agora já estava devidamente autorizado por Ninsun a chamar Gilgamesh de Gil –, está vendo aquela estrela ali, a mais brilhante no céu? – Apontou para uma grande estrela amarela, que se destaca no firmamento.
- Sim – respondeu Gil -, é estranha, diferente das outras. É grande e... amarela.
- Aquele é o meu planeta, Nibiru. Ele está se aproximando, logo estará bem próximo, e o céu ficará ainda mais bonito. – E completou – Sabia que no meu planeta não podemos ver as estrelas e não temos lua. Tudo o que vemos é o amarelo ouro de nossa barreira térmica.
- Deve ser chato! – Completou insensivelmente Gil.
- Na verdade é muito bonito. – Retrucou Enki, olhando para Gil. E com certa nostalgia, completou - Já estou com saudades daquele céu!
- Mas nunca muda. É sempre igual. – Falou Gil.
- Isto é verdade. – Concordou Enki um tanto frustrado e, mudou de assunto – Você sabia que a vida em nossos planetas evoluiu de um mesmo ancestral em comum?
- Sério? – Perguntou o curioso Gil, levantando a cabeça da areia e olhando interessado para Enki – Como pode se ficam tão longe um do outro?
- Eu vou te contar uma história. História esta, que é ensinada nas escolas de Nibiru desde que seu planeta foi descoberto e estudado pelos Anunnakis. Depois de ouvi-la você vai entender...

***

Um grande planeta gira em sua orbita.
É o terceiro a partir de seu sol. E, ao contrário dos outros grandes planetas, este é rochoso. O planeta é ainda muito primitivo, mas tem algo de especial que o diferencia dos outros planetas de seu sistema: ele possui água em estado liquido, e muita, mas muita, atividade vulcânica, sua atmosfera é rica em metano e dióxido de carbono.
Seus agitados mares de água morna possuem todos os componentes necessários para o maior milagre da natureza: o surgimento de vida.
Com o passar de milhares de anos, inevitavelmente, começou a surgir nesta “sopa” primordial, algumas moléculas com uma característica que as diferenciava de outros elementos químicos: “Elas podem se reproduzir”. Seu nome é RNA.
A reprodução é assexuada, a molécula simplesmente se divide gerado um clone idêntico a si a cada divisão. Mas, nem sempre as cópias saem perfeitas, algumas apresentam falhas.
Estas falhas, na maioria das vezes são fatais, levando a morte prematura do individuo. Mas às vezes, sem situações muito raras, tornam o novo ser melhor que o ser que o gerou, e ele obtêm mais sucesso na evolução. Com o tempo, as moléculas de RNA começaram a unir-se, trabalhando em simbiose, formando estruturas mais complexas: o DNA
O DNA também mantém todo código genético que torna possível a criação de um novo individuo idêntico, mas agora com mais detalhes e maior complexidade.
As moléculas de DNA, da mesma forma que as de RNA, também se reproduzem criando cópias de si mesmas, onde também podem ocorrer falhas. Com o tempo, algumas moléculas de DNA modificadas ganharam uma forma de proteção, e estas, obtiveram maior êxito evolutivo, sobressaindo sob as que não a possuíam. A estas moléculas de DNA com proteção, demos o nome de células. Tínhamos agora os seres unicelulares, que prosperaram e se espalharam por todo este gigantesco planeta, eles possuem tudo que precisam para isso.
Mas estes pobres seres, nem em sua estrutura mais intima, poderiam imaginar o que o destino lhes reservara.
A milhares de quilômetros do planeta gigante, vinha ele, silencioso e a grande velocidade. Seu tamanho era um pouco menor que a metade de nosso prospero planeta gigante, que girava em torno de seu sol, tranqüilo e agora com vida unicelular. Aquele enorme aerólito se aproximava impávido, e seguia direto rumo ao gigante. Nada poderia ser feito, ninguém poderia segurá-lo, o meteoro estava com sua rota decidida... e, o fatídico destino aconteceu.
O choque foi devastador, a força foi tão grande que o gigante planeta agonizando foi partido em dois, o meteoro também sofreu sérios danos, partindo-se em pedaços. Uma das metades do planeta gigante se manteve na mesma orbita original, mas a metade maior foi arremessada para fora de seu sistema, desprendendo-se da gravidade do sol.
Com o tempo, a metade arremessada, passou a descrever uma nova e incomum órbita, também em torno do mesmo sol, mas muito maior. No mesmo tempo que esta metade leva para completar uma volta em torno do sol, a metade que ficou na posição original em que estava o planeta gigante completa 3600 vezes a sua órbita.
Poderia ser este o fim das criaturas unicelulares que haviam surgido no planeta gigante, e que agora se dividiam entre as duas metades. Mas a vida sempre arranja uma forma de prosseguir seu caminho, e neste caso não foi diferente.
A parte que foi arremessada para uma órbita incomum longe do sol, possuía como passageiros alguns seres unicelulares que produziam seu próprio calor. Obviamente existiam outras variedades que simplesmente não resistiram à tão rigorosas condições, mas os que produziam seu próprio calor conseguiram resistir, e se mantiveram por milhares de anos. Até que a gravidade transformasse aquela metade de planeta, em um planeta completo, com seu vulgar formato arredondado, é bem verdade que menor que o original, porém, maior que a parte abandonada no local da tragédia.
Uma atmosfera surgiu e, por um milagre da natureza, no formato perfeito para reter o calor gerado no planeta como uma estufa gigante, o que permitiu a evolução de todos os seres vivos, incluindo os Anunnakis.
No local em que ficava o planeta gigante, sobraram os restos que não foram arremessados. Dentre estes restos, ficaram duas partes maiores e muitas migalhas. Novamente, neste caso, a gravidade atuou, transformando uma das metades em planeta e a parte menor, em seu satélite natural. Isto explica o porquê de Nippur possuir um satélite, proporcionalmente, tão grande. Alguns seres microscópios desta metade também resistiram, e com milhares de anos, foram gradualmente evoluindo para formas mais complexas de vida.
Ironicamente, após todo este tempo separados, Nibiru precisou do socorro de seu irmão gêmeo, Nippur, do qual foi brutalmente separado a milhões de anos.
Após exaustivas buscas pelo universo, foi Nippur o único planeta próximo, que possuía o que Nibiru precisava para manter a vida em seu solo. Como um convalescente que depende da doação de um órgão vital para sobreviver e, seu irmão gêmeo é o único doador compatível.
Nenhum Anunnaki, nem no maior dos devaneios, poderia imaginar encontrar um planeta irmão a Nibiru, muito menos com abundantes formas de vida que, ainda por cima, carregam em sua estrutura genética um parentesco muito intimo com sua espécie. No fundo, não só Nibiru encontrou um irmão, mas todos os Anunnakis encontraram vários irmãos, com suas diferenças adquiridas ao longo da evolução, mas no fundo, extremamente semelhantes...

***

Quando Enki terminou sua história, Gil estava sentado a sua frente, com os olhos arregalados, parecia hipnotizado. Quando finalmente conseguiu falar, disse:
- UAUUU!!!!