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CAPÍTULO 14

Um animal acuado.
Essa é a melhor expressão para o que sinto neste momento. Depois de ver minha foto no jornal com a manchete sobre o assassinato do professor da USP, parecia que todos estavam me condenando e prontos para chamar a policia.
Como iria escapar? Não poderia pegar taxi nem ônibus, muito menos entrar em algum hotel ou sequer, ficar parado, no centro de Curitiba.
Ao meu lado parou um caminhãozinho. O motorista e o ajudante abriram o compartimento de carga e entraram no furgão. Em pouco tempo, cada um saiu, com um grande pedaço de carne nos ombros, e seguiram em direção a um açougue. Não raciocinei, e, agindo de forma impulsiva, pulei para dentro do furgão e me escondi atrás dos pedaços de carne. Em pouco tempo o motorista e o ajudante voltaram, fecharam o furgão. Senti o veiculo sendo ligado e começando a andar.
Era um furgão frigorifico, e em poucos minutos, comecei a tremer de frio. Precisava resistir. Encolhi-me em um canto, abraçando a valise com a tábua de argila e os decalques. Precisava me manter aquecido.
Depois de algumas entregas seguidas, nas quais sempre me escondia atrás da carga, finalmente o caminhão começou a andar sem parar por durante vários minutos. Não tinha a mínima idéia para onde iria, mas desde que fosse para bem longe, estava bem, apesar do frio que estava sentindo.
Novamente outra entrega. Pelo tempo transcorrido, achei que já era hora de sair, não deveríamos mais estar no centro de Curitiba e, já não havia muita carne no compartimento para me esconder. Aguardei os dois ocupantes do veiculo pegar, cada um seu pedaço de carne nos ombros e sair. Tirei a cabeça, cuidadosamente, para fora do furgão, para observar onde estávamos.
É um grande depósito, talvez de alguma empresa. Há muitas grandes prateleiras com alimentos, sacos de arroz, feijão, caixas de legumes e verduras... pensei que poderíamos estar em alguma empresa fornecedora de refeições industriais.
Sai do furgão e me escondi atrás de algumas caixas com frutas e, aguardei pacientemente, pela noite, para poder sair com menos risco de ser visto.

***

Aquele lugar não era mais seguro.
Ninsun sabia bem disso. Uma nave de reconhecimento Anunnaki havia passado, poderiam só estar passeando, matando animais por puro prazer, como costumavam fazer, ignorando os pedidos do Doutor Anzu, mas não podiam arriscar. Tão logo terminaram de comer Ninsun falou para Gil:
- Junte nossas coisas querido, temos que ir. Vamos para o leste.
E para o leste eles seguiram, sempre com todo cuidado, sempre se protegendo. Procuravam sempre os lugares com mais árvores ou qualquer coisa que os ocultasse se vistos do céu, e seguiam por baixo, mas olhando com cuidado para o céu. Os Anunnakis não suportam o frio, por isso não vem para esta parte congelada do planeta, então, por terra, eles não viriam, o perigo estava no céu, e em suas naves.
- Gil – falou sua mãe –, olhe sempre para o céu, mas sem se descuidar dos animais selvagens em terra, qualquer coisa estranha que vir, esconda-se o mais rápido possível. Não temos como lutar contra eles e sua tecnologia. Precisamos ser invisíveis.
Caminharam por alguns dias, Ninsun desviou um pouco o caminho para passarem perto do mar, precisavam de sal, e o retiravam da água do mar. Havia algum tempo que não vinham para esta região, pois era mais quente, o que poderia atrair algum Anunnaki. Ela sabia da existência de uma confortável caverna onde já haviam passado algum tempo, e da qual Ninsun tinha boas lembranças. Isso fazia já alguns anos, Gil era ainda bem pequeno, mas ainda assim, lembrou-se do lugar.
Ele gostava muito do mar, havia algo mágico, um tanto melancólico. Sempre sentia um aperto no peito diante daquela massa de água que carinhosamente lambe a branca areia da praia. Sempre se perguntou o que teria do outro lado de toda esta água, sua mãe sempre lhe disse que não havia nada, mas Gil não acreditava – deve ter algo, afinal, a terra é redonda – pensava. Mas o que mais lhe agradava aqui era a temperatura, maior que os outros locais onde passaram, por ele viveriam ali para sempre, mas sua mãe ficava apenas tempo suficiente para conseguir o sal. Sempre repetia que ali não era seguro.
O frio o incomodava muito, apesar de toda a roupa que sua mãe faz com grossas peles de animais, ainda assim sente muito frio. Gostaria de ser como sua mãe que tem uma resistência muito grande às baixas temperaturas - Talvez quando crescer! – pensava, e este pensamento o confortava, porque, em um mundo como o seu, coberto de gelo, precisava criar resistência e pegar gosto pelo frio, ou, sofreria pelo resto da vida.
Gil reconheceu a caverna imediatamente e, saiu em disparada na sua direção. Queria ver como estavam os desenhos que fez, juntamente com Hughu da última vez que estiveram ali. Mas, ao chegar próximo a entrada da caverna, algo o deteve. Não sabia o que era, mas algo o perturbou e, ele parou. Sentia que havia algo diferente naquela caverna. Algo, que ele não conhecia.
- Tem algo lá dentro mãe! – falou Gil.
- Você viu alguma coisa Gil?
- Não!
- Então como sabe?
- Não sei como! Mas eu sei... que tem algo lá, eu posso sentir!