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CAPÍTULO 24

A festa de inauguração está pronta.
Todos se reúnem em torno da estrutura formada por três pirâmides, uma extremamente grande, e as outras, gradualmente menores. Elas ficam quase que alinhadas e são cobertas por uma liga metálica que faz gerar energia entre elas, energia esta que abastece, fartamente, toda Eridu. Não existe aí nenhuma novidade para os Anunnakis. Esta é a forma tradicional, e praticamente gratuita, de se obter energia e é utilizada há anos em Nibiru.
O que intriga os presentes é uma estrutura próxima, que está rodeada por uma grande cortina suspensa por uma nave, que flutua calmamente. Todos comentam e se perguntam sobre o que teria dentro da cortina. Todo trabalho dos Lulus fora realizado dentro desta proteção de tecido, para aumentar ainda mais a curiosidade sobre a surpresa prometida pelo Chanceler.
Enlil está em seu gabinete, preparando-se para iniciar as festividades, repassando seu discurso, quando, seu assessor entra apavorado.
- Senhor, alguém aqui precisa falar-lhe com urgência!
Entra no gabinete Ereshkigal, arrastando consigo dois Lulus visivelmente machucados.
Após algum tempo de conversa entre eles, o Chanceler chama o chefe da guarda de Nippur e ordena que leve todos os Lulu Amelus para bem próximo ao palco onde será realizado o discurso de inauguração.
Ao serem chamados, os Lulus sentiram grande alegria, afinal, apesar de serem os construtores dos geradores, bem como da surpresa que esta atrás da cortina, não haviam sido convidados para a cerimônia.
– Devem ter repensado o assunto e acham importante nossa presença! – Comentam entre si.
Os Anunnakis também estranharam a presença dos Lulus.
– Os Lulus são seres inferiores. Não são dignos de participar das festividades Anunnakis! – Era o que comentavam.
Quando todos já estavam em seus lugares, o Chanceler sobe ao palco, acena pedindo silêncio e começa a falar.
- Amigos Anunnakis. Hoje era um dia para grande alegria e festividades – começou –, mas acabo de receber uma noticia que me abalou, e quero compartilhá-la com todos vocês!
O Chanceler fez sinal para que trouxessem os dois Lulus que vieram com Ereshkigal das minas. A curiosidade tomou conta de todos, principalmente dos Lulu Amelus, que viram dois dos seus muito machucados sobre o palco. Logo a curiosidade foi substituída por outras emoções: ira por parte dos Anunnakis e perplexidade por parte dos Lulu Amelus.
O Chanceler formalmente acusou os dois Lulus pelo assassinato de seu irmão, e gerente das minas, Enki. Contou a todos a história apresentada por Ereshkigal, de que quatro Lulus violentaram uma fêmea de sua própria espécie, e que Enki tentou defende-la. Conseguiu matar dois dos agressores, mas foi surpreendido e morto pelos dois que estavam sangrando no palco. Em uma tentativa para se livrarem da culpa, jogaram o corpo de Enki, em um caudaloso rio próximo as aralis e, o corpo não foi mais visto.
Um alvoroço começa, os Anunnakis pedem justiça e, é isso que o Chanceler lhes dará. Uma punição exemplar deve acontecer, e por isso, todos os Lulu Amelus foram chamados. Para assistir e aprender com a lição. Para ficar claro a todos o que acontecerá a quem agredir, ou pior ainda, vier a matar um Anunnaki.
O carrasco sobe ao palco e inicia a sessão de tortura, contra os dois Lulus que foram acusados. A tortura se estende por horas, sob a torcida alucinada dos Anunnakis.
Os acusados imploram para que o suplicio cesse. Juram inocência, mas não há clemência, não há perdão. Os Lulus que assistem horrorizados a cena, nem em seus piores pesadelos imaginavam que poderia existir tamanha crueldade. Eles choram. Tem certeza da inocência dos seus, alguns desmaiam de terror, outros são agredidos por alguns Anunnakis mais exaltados e que a segurança não pode, ou não faz questão, em conter.
Após horas de tortura, finalmente os dois acusados tombam, mortos, mas com o alento de que o sofrimento finalmente acabou. Todos os Lulus são devolvidos aos seus alojamentos, muitos em estado de choque, outros, gravemente feridos. As festividades recomeçam, os corpos dos torturados são carregados pelos guardas e jogados no rio próximo à cidade. Devem ser consumidos pelas feras, nem sepultamento eles tem direito, o castigo deve ser completo.
Alheio ao sofrimento dos Lulus, o Chanceler dá sequência ao protocolo e, inaugura o gerador citando as vantagens para o povo que está morando em Nippur e que indústrias finalmente serão instaladas e a primeira a funcionar será uma fábrica de armas, que segundo o Chanceler, visará à segurança dos próprios Anunnakis.
Finalmente a curiosidade dos Anunnakis é sanada. A nave que segura à cortina, alça vôo e, eis que surge, um enorme leão esculpido em pedra. Deitado sobre suas patas, majestoso, de cabeça erguida, orgulhoso. O animal será o símbolo de Nippur, e representa a superioridade dos Anunnakis sobre tudo o que existe neste primitivo e insalubre planeta.
Ao terminar de contar esta história Ninsun esta chorando copiosamente, Gil a acompanha. O Anunnaki, que apesar de convalescido, os seguiu até a caverna do alto do morro, também ouvira a história, e fica horrorizado. Ele chega próximo a Ninsun e Gil, e os abraça.
Neste momento Ninsun chora ainda mais, colocando para fora toda a angustia de uma vida. Todo sofrimento que passou em sua infância, e que, nem ao menos conseguia entender o porquê.