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CAPÍTULO 26

Ela abre, lentamente, a porta.
Ele revela-se diante de si, impávido, sereno, majestoso. Toda a informação de todos os Anunnakis de Nippur ali a sua frente e apenas alguns cliques os separam.
É errado, Lizi sabe. Nebo sempre fora um Anunnaki bom para ela, jamais a tratou como uma Lulu, sempre a tratou realmente como uma esposa, ela devia ser a única de sua espécie que teve esta sorte. Mas, sua curiosidade é enorme. Já havia se convencido, jamais falaria para ninguém o que veria, por pior que fosse a informação, por mais nefasto que fosse o segredo, não contaria a ninguém, mas ela... ela precisava saber.
Falou a Nebo que não estava sentindo-se bem naquela manhã, que precisava ficar em casa, que não podia ir trabalhar. Ele, como bom marido que era, nem questionou, se despediu e foi sozinho ao trabalho, já havia ligado inúmeras vezes, para saber se Lizi estava melhor. Mas ela não tinha nenhum problema, a não ser, a curiosidade.
Agora ela estava ali, diante do grande cérebro. O servidor, onde Nebo, para segurança dos dados, copiou, e ainda copia, todas as informações, de todos os computadores de Nippur. É um grande servidor de backup.
Lizi liga o monitor. Uma tela holográfica, instantaneamente surge a sua frente, solicitando senha para acesso.
– Qual será esta senha? – Se pergunta.
Sabe que, como padrão em sistemas, tem apenas três tentativas, depois a senha ficaria bloqueada. Pensa nas coisas mais importantes para Nebo, as quais ele poderia usar como senha. Digita a palavra “Lizi”.
- Senha Incorreta! - Responde o servidor.
– Lizi, sua burra. – Lamenta-se de sua prepotência - Nebo nunca usaria o meu nome. Além do mais é uma senha muito curta, muito fácil, ele é expert em segurança lógica, jamais usaria uma senha assim.
A primeira tentativa já foi, faltam apenas duas.
Lizi pensa, pensa... anda de um lado para outro, e concluí:
- O trabalho é muito importante para ele, deve ser isso. - "computador", ela digita.
- Senha Incorreta! - Novamente o grande computador contesta.
Agora ela fica tensa, se errar novamente vai bloquear o usuário e, como ela vai explicar à Nebo do porque de estar bloqueado. Ela decide não arriscar, desliga a tela holográfica e volta para seus afazeres. Começa a organizar sua casa, mas sua cabeça não para de pensar em qual seria a senha correta. A curiosidade é monumental.
- O que Nebo usaria como senha? – Pergunta silenciosamente para si.
Ao abrir uma das gavetas de seu armário, encontra um pequeno cartão. Ela própria o havia guardado. É um bilhete que Nebo deixou para ela após sua primeira noite juntos. Lizi sempre lia e relia este bilhete, pois lhe proporcionava uma sensação boa, sensação de ser especial. Desta vez, no entanto, o bilhete trouxe uma sensação a mais.
- É isso! – Gritou - Só pode ser isso! - Falou empolgada para si mesma.
Com o bilhete em mãos, correu para a sala do “grande cérebro”, ligou a tela holográfica, respirou fundo, e inconsequentemente digitou a mensagem escrita no bilhete. Desta vez, não pensou que, se a senha estiver incorreta, o usuário ficará travado. Tem certeza de que está correta.
Lizi digita a mensagem do cartão no campo senha:
"Lizi&Nebo eternamente" e clica em OK.
Alguns grandes segundos se passam até que o servidor, impávido, apresenta a mensagem:
- Seja bem vindo Sr.Nebo!

***

- Sabia que não era a verdade! – gritou Ninsun – Todos nós sabíamos. Nenhum Lulu é assassino, jamais mataríamos alguém. – Ela anda de um lado para outro na caverna - E fomos acusados e, a partir daí, multiplicaram os maus tratos contra nossa gente...
- Seu povo jamais faria isso. – Concordou Enki – Vocês são bons, foram criados assim, faz parte de sua índole. Quem tentou me matar foi meu imediato, o terrível Ereshkigal!
- Agora ele é o responsável pelas minas – falou Ninsun –, que é chamada pelos Lulus de “inferno”.
- Ereshkigal é um canalha. Preciso voltar imediatamente, e colocá-lo em seu devido lugar: na cadeia.
- Garanto que não é fácil. – Falou Ninsun. – O único caminho que conheço é pelo mar, e, este mar é muito perigoso, como você mesmo já constatou. Talvez os kerabulus conheçam outro caminho. Eles devem chegar a esta praia em breve, eles ficam na prais durante a primavera. Aproveite este tempo para se curar – completou Lizi -, sua saúde precisa estar perfeita para retornar a Eridu.
Durante a noite, Gil não consegue dormir.
A história que ouviu mexeu completamente com seu intimo. Durante toda sua vida, sua mãe e ele, perambularam por este planeta gelado, sem nunca encontrar outro de sua espécie. Os mais próximos eram os kerabulus, apesar de gostar muito deles, nitidamente não eram da sua espécie. Agora ele sabe que existe uma cidade cheia deles, e que seu pai é uma destas gigantes e cruéis criaturas albinas.
Sua cabeça dava voltas, ficou imaginando a situação em que os outros se encontravam, sendo escravizados, explorados, maltratados por seus próprios criadores, aqueles que poderiam ser chamados de seus pais.
Aos poucos começava a fazer sentido o sentimento que tinha sempre que olhava para o mar. O aperto no peito, uma dor não física, mas na alma, uma inexplicável aflição, certamente era a dor que sua gente sentia, do outro lado do mar, mas que, de alguma forma chegava até Gilgamesh.
Sabe que precisa fazer algo por eles, mas o quê? E, como?