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CAPÍTULO 37

Estava do lado de fora do chalé, escovando os dentes e observando a bela noite de interior.
Minha contemplação, porém, durou pouco. Um grito apavorado me fez voltar ao chão. Era a filha do fazendeiro. Corri em direção ao chamado e, o que vi, me fez arrepiar. Era uma noite clara, de lua cheia. Mesmo com a escuridão típica do interior, dava para ver bem, pelo menos a curta distância.
A uns 30 metros do chalé, um corpo jazia no gramado, nitidamente era a filha do fazendeiro. Sobre ela, havia um grande animal, mais ou menos do tamanho de um cão rottweiler. Sua cabeça está abaixada, parece que estar mordendo no pescoço da garota. Sobre o corpo do animal, é visível uma espécie de crina, eriçada, como grandes espinhos, que se estendem ao longo de seu corpo. O animal está inerte, com exceção da sua crina, que se movimentava conforme o animal respira... ou suga, não sei bem.
Ao ver a cena, em um impulso que era um misto de valentia e idiotice, peguei uma foice que estava encostada na parede do chalé e, em uma vã tentativa de afugentar a criatura, levantei-a acima de meu corpo, em posição de ataque, e sai, gritando em direção aos dois. Porém, ao chegar à metade do caminho, a parte da valentia resolveu ir embora, e me senti apenas, um completo idiota, pois o animal, ao contrário do plano inicial, não correu.
Ele fez justamente o oposto.
Ao ver meu escândalo, o estranho ser levantou a cabeça. Foi possível ver, claramente, seus grandes olhos vermelhos, que me encaravam de forma ameaçadora. Imediatamente, parei, ainda com a foice levantada, o grito que, animadamente, emitia, calou-se. Meu cérebro ainda enviava instruções para minhas cordas vocais, mas, insubordinadamente, elas não obedeciam. Meu corpo travou de tanto medo.
O estranho animal levantou mais sua cabeça em minha direção, parecia estar tentando sentir meu cheiro, depois voltou sua cabeça em direção à desacordada filha do fazendeiro e começou a cheirar seus cabelos. Repetiu este mesmo gesto algumas vezes, revezando entre mim e a filha do fazendeiro. Parecia que estava tentando tomar uma decisão, procurando a vitima correta.
Finalmente, depois de algum tempo, não sei ao certo quanto, mas me pareceu uma eternidade, ele decidiu-se. Largou o corpo caído, e veio a toda velocidade em minha direção.
Ainda tentei fugir, no fundo, gostaria disso, mas meu corpo teimava em não me obedecer. A criatura se aproximava rapidamente. Seus olhos vermelhos ficavam cada vez mais perto, cada vez maiores, era possível ver o ódio naquele olhar. Quando ele chegou a uma distância de uns três metros de mim, saltou, violentamente, em direção ao meu pescoço.
Em um último ato de obediência de meu corpo, consegui fazer com que meus olhos se fechassem, foi ai que escutei um estrondo e... não vi mais nada.

***

Eridu, a cidade Anunnaki em Nippur.
Não era tão grandiosa quanto às cidades de Nibiru, que já floresceram e cresciam a milhares de anos, mas, para alguém como Gilgamesh era impressionante.
Nunca em sua vida vira tamanha destruição da natureza, nem tanta poluição e sujeira, que se estendia por quilômetros ao seu entorno. A cena o impressionou tanto que, por alguns segundos, esqueceu de sua mãe e da tristeza que sua falta lhe causava.
Enki voltara para a cidade, sentia-se responsável pelo que ocorreu. Suas palavras, antes de sair, ainda martelavam na cabeça de Gilgamesh.
– Os Lulus devem ter tratamento digno – Falou Enki antes de partir -, e vou lutar por isso! Fique com seu irmão, eu voltarei para buscá-los em breve e, os levarei para Eridu. Assim que houver liberdade e segurança para todos os Lulus e hibridos, volto para buscá-los. - E se despediu, deixando Gilgamesh e seu irmão aos cuidados dos kerabulus, que são seres primitivos, mas confiáveis.
Partiu chorando, mas, devia isso a Ninsun, a sua memória. Precisava mudar a forma com que os trabalhadores primitivos são tratados, precisava garantir uma vida digna a eles, sentia-se responsável e, precisava mudar esta situação.
Gilgamesh, porém, não ficou com os kerabulus.
Contrariando o pedido de Enki, Gilgamesh o seguiu, com todo cuidado para não ser visto, através do caminho que os kerabulus ensinaram até a cidade de Eridu. Ao chegar à cidade, Enki entra, mas, Gilgamesh sente medo e para.
Escondido, fica olhando enquanto Enki desaparece pelas ruas de Eridu, a cidade Anunnaki em Nippur.