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CAPÍTULO 38

Um cheiro forte tomou conta de minhas narinas, que arderam.
Isso foi suficiente para que eu acordasse. Estava zonzo, e não lembrava direito o que acontecera, nem sequer, sabia onde estava. Quando minhas vistas se acostumaram com a claridade, constatei que estava na casa sede da fazenda e, ao meu redor, alguns empregados da me olhavam, assustados.
- Você tá bem professor Prawdanski? – Perguntou uma das empregadas, que trazia um pote em sua mão, com algo que eu não soube identificar, mas que, certamente me fez voltar a si.
- E... acho que sim. O que aconteceu? – Respondi ainda desorientado.
- Você desmaio! – Falou um dos empregados em tom de gozação – Desmaio de medo! – Todos riram.
- E a filha do fazendeiro? – Perguntei.
- O patrão levo ela pro hospital. Ele ligo agora a poco. O médico disse que ela tá bem, só tá fraca... precisa tomá soro. – Falou a empregada da casa.
- E o animal que nos atacou?
- Tenho certeza que acertei. – Falou outro empregado – Não achamo o corpo, mas, nunca ia erra um tiro deste, amanhã vamo procura o morto.
- Não! – Retrucou um empregado mais velho, com sua voz rouca e calma. Já devia ter uns 70 anos, trabalhou para o pai do fazendeiro, agora estava aposentado, mas morava na fazenda. – Nóis não vamo encontrá morto nenhum, você sabe bem disso. Fazem de conta que não acreditam pra não perece tolo, mas... todo mundo sabe o que ataco.
- Isto é crendice dos mais velhos. – Respondeu o atirador – Esta só é uma história pra amedronta criançinha!
- Você já caço muito em sua vida, não é? – Perguntou o velho para o atirador.
- Sim! – Respondeu ele – Já cacei muito, e sô bom nisso!
- E, todo caçado, conhece bem sua caça, não é?
- É verdade, conheço todo tipo de animar da região!
- Então me diga grande caçado – falou o velho em tom de deboche -, me diga, porque tô véio e ainda não sei. Qual memo é o nome do animar que faz uma marca iguar a que ficou no pescoço da patroinha? Que animar dexa uma marca daquela?
O caçador não respondeu, não sabe a resposta. Todos se olharam, ninguém falou nada. Não havia o que falar.

***

- Senhor Chanceler! – Falou a secretária, entrando no gabinete, eufórica, e com um grande sorriso no rosto – O senhor não imagina quem está aqui para lhe ver?
O Chanceler Enlil não respondeu. Apenas a olhou, seriamente, para a secretária, mas foi o suficiente para lembrá-la de que, ele não gosta de adivinhas. O que fez com que ela se apressasse em anunciar.
- Quem está aqui para lhe ver, é seu irmão... Enki!
Falou como um apresentador anunciando uma nova atração e apontou para porta do gabinete, pela qual, Enki já estava entrando.
De todos os Anunnakis existentes, Enki era mais improvável para estar ali, afinal, deveria estar morto. O Chanceler precisou de alguns segundos para assimilar o fato. Quando a ficha caiu, levantou-se e foi em direção ao seu irmão, o segurou pelos ombros, olhando em detalhes como se, procurando ter certeza que era realmente ele, e finalmente, se abraçaram, fraternalmente. Enlil começou a chorar, e para não demonstrar fraqueza fora da família, fez sinal para sua secretária, que também estava chorando, sair.
Depois de alguns minutos, em silencio, apenas abraçados, chorando, finalmente Enlil perguntou:
- Meu irmão, o que aconteceu com você? Soube que havia morrido!
- Tentaram meu irmão, mas parece que a sorte agracia nossa família.
Enki estava se referindo a tentativa de assassinato que Enlil sofreu, logo que foi eleito Primeiro Ministro de Nibiru, da qual, milagrosamente, também se salvou.
Enlil pediu para seu irmão sentar, lhe ofereceu uma bebida, e pediu para que lhe contasse, em detalhes, toda a verdade, e tudo o que aconteceu com ele neste período em que esteve desaparecido. Conversaram longamente, Enki lhe contou sobre Ereshkigal, e sobre tudo o que aconteceu naquele dia. Falou também de Ninsun e de como ela salvou sua vida.
- Realmente é impressionante! – Falou Enlil ao seu irmão quando este terminou sua história – Então uma Lulu realmente conseguiu fugir. Já virou uma lenda!
- Sim - responde Enki -, e se não fosse por ela, eu estaria realmente morto!
- Mas ela estava sozinha?
- Como lhe disse, completamente só. – Enki sabia que não poderia contar sobre Gil e seu irmão. Certamente Enlil abriria a temporada de caça aos híbridos.
- Que absurdo. – Falou Enlil, pensativo - Largar tudo para viver só, e no meio do mato. – Balançou negativamente a cabeça.
- Pelo que ela me contou, dou razão a todos que fugirem!
- Pode ser. Mas, agora temos um problema. – Falou Enlil, recostando-se em sua poltrona.
- Que problema?
- Você não está morto!
- E? – Perguntou Enki.
- O problema é Ereshkigal!
- É fácil resolver, Enlil. Prenda Ereshkigal por tentativa de assassinato, e me devolva à administração das aralis!
- Não é tão simples meu irmão. – Enlil recostou-se ainda mais em sua poltrona – Muita coisa mudou em Nippur depois da sua morte.
Infelizmente... você terá que continuar morto!