Enki não entendeu o que seu irmão quis dizer com “continuar morto”, mas, vindo do Chanceler, não poderia ser boa coisa. Enki fez uma promessa e, está disposto a fazer o possível e o impossível para cumpri-la. Sente-se culpado pelo que está acontecendo com os Lulus, e precisa reverter à situação, além de, permitir que seres híbridos possam ser livres, como qualquer Anunnaki, o que de fato eram.
- Desde seu suposto assassinato – prosseguiu Enlil -, muitos Lulus foram, e continuam sendo, torturados e mortos. Todos os consideram perigosos e instáveis. Se descobrirem que é mentira, será um caos.
- Não entendi?
- Estes seres, não querem continuar sendo tratados como escravos. Tivemos inúmeras rebeliões e, a única maneira que obtivemos algum sucesso em contê-los foi com as aralis e, com Ereshkigal.
- Ora, é simples, trate-os como trabalhadores, com salário e descanso.
O Chanceler deu uma grande gargalhada e respondeu:
- Enki, Enki, sempre cheio de compaixão. Se precisássemos apenas de trabalhadores, usaríamos os próprios Anunnakis, não precisaríamos criar uma raça nova, afinal, a maioria dos Anunnakis só serve mesmo para trabalho braçal e para nos eleger como seus governantes, são uns inúteis. O problema em tratar os Lulus como trabalhadores, é que, em pouco tempo teremos a mesma situação que tivemos com os Anunnakis nas minas, greve por melhores condições de trabalho, melhor salário, criam sindicatos, etc, etc, etc... escravos são mais fáceis de lidar.
- É um absurdo o que está dizendo. – Falou Enki, exaltado – Todos saberão que estou vivo, vou mudar a forma com que os Anunnakis tratam os Lulus, isso é uma promessa.
- Não está fácil administrar este maldito planeta. – Falou Enlil, em tom definitivo – Tenho inúmeros problemas. Portanto, não vou permitir que você crie mais um, e tão grande como esse. Meu irmão... me desculpe!
O Chanceler pega seu comunicador e fala com sua secretária.
- Mande que a segurança venha ao meu escritório, imediatamente!
Ele nem havia desligado o comunicador e já estavam à porta, juntamente com a secretária, dois grandes Anunnakis. Neste momento Enlil se põe em pé, apontando seu dedo para Enki, e ordenando aos seguranças:
- Prendam este impostor, agora!
Gilgamesh sentiu que Enki estava precisando de ajuda. Mas, ele não tem como ajudar, e, mesmo que tivesse, estava com muito medo da cidade, ela o assusta, passa uma sensação de dor e agonia.
Havia ainda a raiva que está sentindo por Enki. Gilgamesh o culpava pela morte da sua mãe. Tudo que Gilgamesh pode fazer foi chorar, escondendo-se ainda mais, com medo.
Realmente sua vida estava passando por uma fase muito ruim. Primeiro a morte de seu grande amigo Hughu, atacado por um animal, depois a morte precoce de sua mãe. Ela era tudo em sua vida e, por muitos anos, ele pensou ser a única de sua espécie em Nippur.
Pela primeira vez na vida, Gilgamesh sentiu quanto à vida pode ser injusta e cruel.
Ele não conseguia entender a morte, ela não faz nenhum sentido. Toda uma vida de experiências e conhecimentos adquiridos, de uma hora para outra, simplesmente se apaga, tão frágil como uma chama. Tudo que aquele ser passou, seus amores, suas alegrias, suas decepções. Após a morte, nada disso mais existe, simplesmente some, apaga, para sempre. Como as palavras escritas na cinza da fogueira, onde sua mãe lhe ensinou as primeiras letras, que após uma chuva, nunca mais retornam.
Gilgamesh começa a se questionar, de que vale tanta gana em viver, tantas conquistas, tanto estudo, se, temos esta única e cruel certeza, “a morte”.