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CAPÍTULO 46

Meus perseguidores me arrastavam com truculência.
Após minha captura, estavam me levando para o estacionamento. Desviaram a festa e o olhar de qualquer curioso, certamente não gostariam de ser vistos. Estavam em três e, assim que fui capturado, informaram a mais alguém pelo celular. Fui questionado sobre onde estavam os decalques, bem como, a tábua de argila. Como me recusei a falar, o que parecia ser o líder do grupo me agrediu com um soco no estômago, e fez uma singela ameaça.
- Quando terminarmos, você terá contado até o que não sabe!
A dor da agressão é forte. Tão forte que me fez andar arcado, mas o medo supera em muito esta dor. Ao longe ainda se ouvia a animada musica da festa em homenagem a São Pedro, todos estavam se divertindo, ninguém percebeu que estavam me levando.
Chegamos a uma caminhonete preta, um dos perseguidores abriu o porta-malas e, sem cerimônias, fui jogado para dentro. As algemas que estavam bastante apertadas, agora pareciam entrar na minha carne. Gemi de dor.
Rapidamente o porta-malas é fechado, tudo fica escuro, uma agonia ainda maior toma conta de mim. Procuro me ajeitar para que as algemas não machuquem ainda mais meus pulsos e me preparo, esperando o carro andar, mas... o carro não anda.

***

- Que espécime será esta? – Fala um Anunnaki.
- Não sei – responde o outro -, mas, é muito esquisita. Veja, o doutor chegou. Aqui doutor – grita o Anunnaki -, aqui esta o estranho animal!
A cabeça de Gilgamesh latejava. Estava ouvindo a conversa, mas pareciam longe, distantes. Foi abrindo lentamente seus olhos. Cada pequeno facho de claridade entrava em seu cérebro como uma facada, finalmente conseguiu ver quem estava falando, na verdade via apenas alguns vultos próximos a ele. Estava com medo e, seu corpo parecia não lhe obedecer.
- Vejam, está acordando! – Falou empolgado um dos que o rodeavam.
- Já havia identificado este espécime doutor Anzu? – Perguntou outro.
Neste instante, Gilgamesh tenta levantar-se, mas, ainda tonto, cai novamente no chão da pequena jaula que o prende.
- Não – responde Anzu –, eu não havia identificado, simplesmente, porque esta ser, é extremamente raro, provavelmente é o único exemplar. – E concluiu – Meus caros, este ser é um hibrido. Metade Lulu... metade Anunnaki!
Os guardas Anunnakis que estava à volta, protestaram.
– Como poderia ser isso possível? Todos os híbridos são abortados! – Falou um.
- Isso é uma ofensa ao puro sangue Anunnaki! – Gritou o outro.
Anzu manteve-se impávido. Sua grande experiência em zoologia o permitia fazer esta afirmação, sem nenhuma ponta de dúvida. Tem absoluta certeza, graças às características do ser prezo na jaula, de que estavam frente a um hibrido.
- Para início de conversa – respondeu Anzu -, esta história de sangue puro Anunnaki, biologicamente falando, não passa de uma grande mentira. Depois, tenho absoluta certeza de que este é um hibrido Lulu/Anunnaki, que, de alguma forma, sobreviveu ao aborto. Quem sabe a lenda da Lulu que fugiu não seja simplesmente uma lenda!
Os guardas trataram de espalhar, rapidamente, a história. Uma Lulu havia conseguido fugir para salva sua prole. Para os Lulus, esta foi uma pequena vitória, uma ponta de esperança de que, quiçá, algum dia, também possam escapar das garras dos Anunnakis e, se tornar livres. Para os Anunnakis, porém, a historia caiu como uma bomba. Se alguém fugiu, outros também poderiam, e o pior, a pura raça Anunnaki... fora inconsequentemente maculada.
Não demorou para que o Chanceler soubesse do ocorrido, e tomasse medidas imediatas para resolver o problema. A segurança é intensificada a fim de evitar fugas que, pelo calor da situação, poderiam ocorrer. Foi vinculada, ainda, uma série de propagandas, pela CPC com objetivo de desmentir toda a história.
O Chanceler chamou, com urgência, os dois guardas que encontraram Gilgamesh, os únicos, fora Anzu a ver tão medonha criatura, e ordenou a sua imediata execução, o corpo deveria ser queimado, eliminando assim qualquer prova de que existiu, algum dia, um ser hibrido. Os guardas foram ainda, proibidos de comentar sobre o acontecido, sob pena de expulsão e encaminhamento imediato para a prisão de Charak.
Quanto a Anzu, neste momento não havia nada que pudesse silenciá-lo. A única coisa possível de se fazer é ridicularizar suas afirmações através da CPC. Felizmente, para o Chanceler, a mídia exerce grande poder sobre os Anunnakis, que podem ser facilmente manipulados desta forma. Enlil tem a certeza de que, em alguns dias de Nippur, a história não passaria de mais uma lenda, tudo era simples, se não houvesse provas e... não haveria.
A jaula é pequena e desconfortável, certamente não fora construída para Anunnakis ou híbridos.
Gilgamesh enfiou suas pernas pelos vãos das grades para esticar um pouco os músculos. Escutou conversas, eram os guardas que se aproximavam e, seus pensamentos não agradaram Gilgamesh, que entrou em pânico.
Começou a forçar todas as grades da jaula. Sabe que precisa sair, imediatamente, daquele lugar. Seu dom de ler pensamentos, sempre fora bastante útil, porém, neste momento, somente trouxe desespero. Tão logo os guardas se aproximaram, Gilgamesh teve certeza de sua sina.
Eles vieram para matá-lo!