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CAPÍTULO 52

- Então a lenda da mãe Lulu, que conseguiu fugir para salvar seu filho é verdadeira? – Perguntou Lizi.
- Sim, eu sou a prova viva! – Respondeu Gilgamesh, agora sentado a mesa, saboreando um doce que Nebo havia feito – Muito bom este seu doce! – Falou com a boca cheia.
- Obrigado! – respondeu Nebo com um sorriso, orgulhoso.
- Viu Nebo, nosso filho nascerá bem! – Falou Lizi aliviada - Onde sua mãe está?
- Morreu! – Respondeu Gilgamesh tristemente – Morreu enquanto dava a luz ao meu irmão.
- Sinto muito! – Falou Nebo.
- Como você surgiu do nada em nossa casa? – Perguntou Lizi.
- Eu fico invisível! – Respondeu Gilgamesh pegando mais um pedaço de doce.
- Você ta brincando, não é?
- Não, não estou. – Falou calmamente Gilgamesh, desaparecendo e tornando-se novamente visível diante dos olhos dos dois.
- Noooossa! – Exclamaram os dois abismados.
- Não pode ser verdade! – Falou Lizi – Deve haver uma explicação para isso.
- Não deve ser um processo físico! – Falou Nebo para Lizi – Provavelmente é uma ilusão de ótica ou algo assim...
- Pode até ser – interrompeu Gilgamesh -, mas, foi assim que consegui fugir quando os guardas me capturaram! – Deu outra bocada no doce.
- Falei Nebo! – Disse Lizi, dando um soco de leve no braço de Nebo – Sabia que era mentira do Chanceler!
- Que mentira? – perguntou Nebo.
- Ele anunciou através da CPC que tinha capturado um kerabulu sem pelo, e não um hibrido!
- Através de quem?
- Depois nós explicamos, fale de você. Onde esteve este tempo todo?
Gilgamesh contou toda sua história, desde a fuga de sua mãe, sua infância, os kerabulus, o encontro com Enki, o nascimento de seu irmão e morte de sua mãe. Contou, também, sobre sua busca do porque de serem mortais, no que eles concordaram, não fazia o menor sentido.
- Mas Enki está morto! – Falou Nebo – E os Lulus foram culpados pela sua morte.
- Quem tentou matá-lo foi um tal de... Ereshkigal. Mas ele conseguiu sobreviver!
- Háááá. – Gritou Lizi - Sabia que só podia ser ele, o demônio das aralis. – Completou irada.
- Mas onde ele está? – perguntou Nebo – Onde está Enki?
- Ele deixou meu irmão e a mim, com os kerabulus e veio para cidade. Disse que seu irmão, Enlil, puniria os responsáveis, e permitiria que híbridos vivessem em paz. Mas por mim tanto faz, por sua causa minha mãe morreu, não gosto dele, não interessa saber o que houve com ele.
- Alguma coisa deve ter acontecido. – Falou Nebo - Ele não chegou, senão, todos saberiam. Ereshkigal ainda é o responsável pelas aralis.
- Talvez ainda não tiveram oportunidade de falar com os responsáveis por punir o assassino. – Falou Gilgamesh ingenuamente.
- Não, eles não teriam esta dificuldade, porque... o irmão de Enki é o responsável, ele é... o Chanceler!

***

O prisioneiro gemia de dor.
Ele estava deitado, encolhido, com as mãos na altura do estomago. Gemia insistentemente de dor, que parecia lacerante. O guarda preocupou-se, afinal, o Chanceler em pessoa exigiu o melhor tratamento possível ao réu.
- Tudo bem com você? – Pergunta o guarda, mas o prisioneiro apenas geme.
O guarda destranca a cela e entra para ver de perto o que estava acontecendo. Ele inclina-se em direção à cama e põe sua mão no convalescido. A situação parece séria, o prisioneiro está vermelho, suando e gemendo de dor. O guarda não tem dúvidas, vai chamar um médico.
Ao virar em direção à porta, porém, solta um grito e cai desacordado no chão frio da cela.
Enki está em pé, havia desferido um golpe no guarda que o fez desmaiar. Abaixa-se e pega a arma e as chaves. Abandona a cela, deixando o guarda, ainda desacordado, prezo. O caminho está livre, agora é só fugir, sorrateiramente da cidade, e voltar pelo mesmo caminho que veio, para encontrar os kerabulus e rever seu filho e Gilgamesh.
Porém, a sorte definitivamente perece ter abandonado Enki.
Ao abrir a porta da prisão que dá para a rua, e consequentemente, para liberdade, dá de frente com uma viatura da guarda de Nippur, que está trazendo outro prisioneiro. Ao vê-lo saindo pela porta da frente, ficam meio sem ação e, por impulso, soltam o prisioneiro que acabaram de prender e, apontam suas armas para Enki.
O prisioneiro que traziam consegue fugir, porém Enki, é levado novamente para sua cela.

***

A pedido do casal Gilgamesh passa a noite na casa de Lizi e Nebo
Não conseguiu dormir direito porque o colocaram em uma cama, com um colchão, que era, para ele, mole demais e muito desconfortável. Outra coisa que lhe tirou o sono foi saber que o irmão de Enki era o responsável pelo sofrimento dos Lulus. Aquilo não fazia sentido, apesar de tudo o que houve, e da raiva que sentia de Enki, Gilgamesh sabe que ele é um bom Anunnaki, como seu irmão poderia ser tão cruel.
Nesta hora, lembrou-se de seu próprio meio-irmão, e pensou se não seria melhor abandonar sua busca e voltar para cuidar pessoalmente dele, para desta forma não correr o risco de um dia ele se tornar um hibrido mau.
No outro quarto, Lizi e Nebo também não conseguiam dormir, mas não foi por causa do colchão. Eles estavam felizes pela gravidez de Lizi, mas muito preocupados com o que poderia lhes acontecer. Também conversaram muito sobre Gilgamesh, e sua incrível história. Resolveram que seria prudente conversar seriamente com ele, porque, da forma que estava agindo, seria presa fácil para os Anunnakis.
O dia amanheceu e, durante o desjejum puxaram assunto com Gilgamesh, que estava, aparentemente, interessado nas guloseimas sobre a mesa.
- O que você vai fazer agora, Gilgamesh? – Perguntou Lizi.
- Vou continuar minha busca! – Respondeu.
- Você precisa tomar mais cuidado – falou Nebo –, nem todos os Anunnakis, pra falar a verdade, poucos deles, lhe proporcionariam este tratamento. Você teve sorte!
- Sua criação, o deixou muito inocente. – Completou Lizi – Mesmo possuindo este poder maravilhoso de ficar invisível, seu pouco conhecimento sobre os Anunnakis pode te prejudicar. - Gilgamesh sabia bem disso, em pouco tempo, já fora capturado duas vezes, quase três. Precisava ficar mais esperto – Eu aprendi muito sobre os Anunnakis através dos filmes que são exibidos através da CPC. São filmes muito violentos, mas os Anunnakis adoram!
- Nem todos os Anunnakis, são assim! – Protestou Nebo.
- Mas dos que vieram para Nippur, quase todos são assim! – Concluiu Lizi, ao que Nebo se calou, pois sabia que era verdade – E também, acho que você não encontrará as resposta que procura aqui neste planeta.
- Fique mais um pouco em nossa casa – pediu Nebo -, assista a alguns filmes e noticiários, assim você pode aprender um pouco mais, poderá ver com o quem você está mexendo.
Gilgamesh concordou, e agradeceu pela hospitalidade. O casal apresentou a Gilgamesh o aparelho que capta os sinais emitidos pela CPC, e o ensinam a utilizá-lo. Ele fica assombrado e sem entender como aquelas imagens tridimensionais podiam se formar ali no ar, logo acima do aparelho.
O casal o acomodou em um sofá, estrategicamente colocado logo a frente do aparelho de captação da CPC. Explicaram que precisavam sair para trabalhar, mas, que ele ficasse a vontade em sua casa.
Após o casal sair, Gilgamesh assistiu a um filme de guerra e, logo em seguida, a um programa jornalístico. Assaltos, assassinatos, tragédias. Gilgamesh não conseguia entender como poderia existir uma espécie tão cruel, e como alguém poderia sentir prazer em ver tamanho sofrimento. Chegou à conclusão de que os Anunnakis, não sentiam um mínimo de compaixão pelo seu semelhante, e mais ainda, gostavam muito de ver a desgraça alheia.
Para se recompor psicologicamente, Gilgamesh foi até o refrigerador, buscar algo para comer. Enquanto se decidia entre um pernil assado de tayassu pecari e uma enorme tigela de mingau de Zea Mays, ouviu um barulho de algo quebrando, vindo do quarto dos fundos.
Imediatamente, captou pensamentos de alguém. Estavam invadindo a casa.