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CAPÍTULO 53

Desta vez, não criei raízes.
Diferente do que achei mais sensato anteriormente, agora não ficava mais que dois dias em uma mesma cidade, isso é útil até para disponibilizar conteúdo para internet, afinal, é fácil rastrear um notebook que acessa a grande rede sempre de um mesmo lugar.
Isso trouxe como efeito colateral, um maior gasto financeiro, já que, ficando pouco tempo nas cidades, não havia tempo em descobrir os lugares mais baratos para se hospedar, comer, entre outras coisas.
A “motinho” se mostrava muito valente, já fiz muitos quilômetros com ela e, nem manutenção precisou ainda. Estava feliz com ela.
Só mais tarde percebi que não deveria estar tão contente com ela, pois poderia ser meu calcanhar de Aquiles.

***

Estavam invadindo a casa de Lizi e Nebo.
Como já estava mais precavido, Gilgamesh ficou invisível imediatamente, assim que ouviu o barulho, e foi, com todo cuidado, em direção ao invasor. Quanto mais se aproximava, mais fácil ficava para Gilgamesh ler os seus pensamentos e, suas intenções não eram das melhores. Sabia que precisava fazer algo.
De repente a fechadura da porta mexeu, e a porta foi, lentamente, se abrindo.
Eis que surge um Anunnaki com cara de poucos amigos, não que eles costumassem ter cara diferente. Imediatamente, um pernil assado de tayassu pecari lhe acerta a cabeça, seguido de uma frigideira, uma panela e um travesseiro. O Anunnaki ficou muito mais assustado que machucado, pois não via ninguém arremessando, era como se os objetos tivessem vida própria. Ele resolveu que não iria esperar para ser atingido novamente e, pelo mesmo lugar que entrou, saiu, em disparada, sem ao menos olhar para traz, derrubando o que encontrava pela frente.
Gilgamesh estava limpando a bagunça causada pelo invasor, quando o casal chegou do trabalho. Perguntaram assustados, sobre o que houve. Gilgamesh lhes contou sobre o invasor e como o havia espantado, mostrou ainda a janela arrombada, local por onde ele entrou.
- Deve ser um assaltante! – Falou Nebo.
- Não, ele não era um assaltante, pelo menos, não era sua intenção hoje. – Respondeu Gilgamesh – Ele estava atrás de um tal de compu... computa... alguma coisa assim.
- Computador? – Completou Lizi.
- Isso mesmo! – Concordou Gilgamesh – Ele deveria levá-lo para alguém, e, encontrando ou não, iria incendiar a casa.
- Ó não! – exclamou Lizi assustada, já com lagrimas nos olhos.
- Isso é coisa do Chanceler, para destruir as provas. – Falou Nebo – Temos que fazer algo!
Nebo abriu a porta do quarto onde estava o “Grande Cérebro”. Lizi e Gilgamesh o seguiram. Ele puxou os controles do servidor, e acionou alguns comandos, esperou alguns poucos segundos, e falou:
– Pronto, agora não existe prova de que sabemos de algo. Mesmo que levem o “Grande Cérebro”, não encontrarão nada. Apaguei todas as informações!
- O que? – Gritou Lizi – Você não fez isso!
- Fiz sim – falou Nebo -, hoje mesmo vou falar com o Chanceler, ele sempre foi muito bom comigo. Explicarei que foi um mal entendido, e que não sabemos de nada e oferecerei o servidor para ele próprio verificar. Agora, ele não encontrará nada.
- Nebo, seu idiota – gritou Lizi -, não vê que matou a todos nós com essa atitude impensada. Estas informações eram a nossa garantia de sobrevivência. Além de que, temos a obrigação moral de divulgar este seu plano medonho.
- Eu o conheço há muito mais tempo Lizi. Sei que será razoável. – Falou Nebo e saiu, apressadamente, deixando Lizi e Gilgamesh se olhando, sem saber o que fazer.

***

- Sua escrava veio me procurar! – falou o Chanceler
- Eu sei senhor, é justamente por isso que estou aqui. – Respondeu Nebo, em tom de submissão.
- Nebo, meu filho – falou o Chanceler em tom carinhoso -, eu gosto muito de você, você sabe disso. Se não fosse sua a escrava, já a teria punido severamente, pelas calunias que me fez.
- Por favor, senhor. Venho, humildemente, pedir suas desculpas, por mim e por ela. Ela é uma boa Lulu, mas como todo Lulu, não costuma beber, e... eu a forcei a tomar vinho, e ela acabou fora de si. Coisas que se arrependo, amargamente.
- Humm, sei! – falou o Chanceler, com um ar desconfiado – E... posso saber o porquê a forçou a tomar vinho?
- Bem senhor, eu fico meio sem jeito de falar sobre isso, mas... na verdade, existem poucas Anunnakis fêmeas aqui em Nippur... e eu me senti muito carente... então...
- Poupe-me dos detalhes sórdidos – falou o Chanceler erguendo o braço -, já entendi, não precisa continuar. Mas porque simplesmente não a obrigou?
- Por fetiche, senhor...
- Tudo bem, tudo bem. – Falou um tanto irritado o Chanceler – Eu sei que esta é uma prática comum, apesar de ser contra a lei, e contra meus princípios, mas, prefiro fazer vista grossa. Afinal, como você mesmo falou, existem poucas Anunnakis fêmeas em Nippur, desde que nenhum hibrido venha a nascer, sujando o puro sangue Anunnaki, tudo bem. – E foi direto ao assunto - Ela está esperando um filho seu?
- Não senhor – respondeu assustado Nebo -, de forma nenhuma. Tomo todo cuidado necessário!
- A chantagem que ela me fez, foi para que eu liberasse o nascimento de híbridos. Por isso imaginei que esta estivesse grávida.
- Na verdade, ela pensa que, se tiver um filho meu... a tratarei como uma esposa, e não como uma escrava.
- Isso faz sentido, nós machos somos coração mole, principalmente quando o assunto é filho. – Concordou o Chanceler – Mas e quanto ao assunto que ela usou para me chantagear? De onde ela tirou? Foi uma acusação muito séria!
- Ela é muito criativa, mas, um tanto paranóica e, às vezes, não distingue a realidade da ficção. Ela sempre inventa histórias, e acha que é verdade. Às vezes penso que todo o conhecimento que ela adquiriu sobre sistemas informáticos, acabou danificando seu cérebro de Lulu, ou algo parecido!
- Nossa! – exclamou o Chanceler.
- Já trabalho para o senhor a muitos anos de Nibiru, e, sabe que sempre fui de confiança. Não gostaria que este episódio, o fizesse pensar diferente. Por isso, faço questão de uma auditoria sua em toda minha casa, em todos os meus computadores e mídias. Quero provar que jamais roubei ou vasculhei informações.
- Nebo, você sempre foi um bom profissional, e, este episódio não abalou em nada a confiança que continuo tendo na sua pessoa. – Falou o Chanceler com um sorriso paternal - A auditoria não será necessária, até porque, o que ela falou a meu respeito é um disparate, jamais sequer pensei em alto tão sórdido. Pode ficar tranqüilo, meu amigo!
- Obrigado senhor. – Falou Nebo, agora mais aliviado, esboçando um sorriso em seu rosto – Com sua licença. – Levantou-se e foi saindo, quando o Chanceler o chamou.
- Só mais uma coisinha!
- Pois não senhor, o que quiser!
- Tenho uma reputação a zelar e, não posso correr o risco de que, uma escrava paranóica fale deste assunto a mais ninguém. Apesar de ser um disparate, seria um prato cheio para meus opositores políticos, não aqui em Nippur, mas sabe... as órbitas estão se aproximando.
- Vou me certificar que ela nunca mais toque neste assunto.
- Você nem sempre estará com ela, muitas vezes ela presta serviços sozinha, eu já vi, e pode comentar estas mentiras com alguém.
- Dou-lhe minha palavra, senhor. Tomarei todo cuidado para que ela não fale mais nada.
- Acredito na sua palavra, Nebo, meu amigo. Mas não posso ficar com este receio, já tenho muito com que me preocupar na direção deste planeta ordinário. – O Chanceler levantou-se de sua mesa e dirigiu um olhar cortante em direção à Nebo – Só existe uma forma de parar, e remediar de uma vez por todas este inconveniente... você deve matá-la!
- Mas senhor – falou Nebo, sem ação -, ela é uma ótima profissional, me ajuda muito...
- Eu lhe darei duas outras escravas para substituí-la. – Falou Enlil interrompendo - Esta não é a melhor forma de tratar este assunto, mas a única. Assim, eu ficarei despreocupado com este assunto, e você, recuperará, completamente, a minha confiança. Cumpra esta ordem imediatamente, ou... – o Chanceler olha seriamente para Nebo, e completa - poderei pensar que você está apaixonado por este animal.
- Não senhor, de forma nenhuma. Pode ficar despreocupado, será feito!
Nebo sai da sala, controlando sua raiva pelo Chanceler ter se referido a Lizi como um animal. Sabia que teria que fazer algo, o Chanceler não o perdoaria novamente e, não seria somente seu emprego que perderia. Amava muito Lizi, e sabia que ela o amava também e que, faria qualquer coisa por ele.
Seria doloroso, mas era a única solução que poderia ser tomada neste momento.