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CAPÍTULO 56

Não importa para onde eu vá, eles sempre estão lá.
Por mais que fiquei um bom tempo sem me conectar a grande rede, mesmo assim, não importando a cidade para onde eu siga, eles sempre estão lá, me procurando. Parece que tenho um rastreador.
Felizmente, sou bom fisionomista e eles são os mesmos, com seu, indefectível porte militar. Dava para conhecê-los de longe. Eu mesmo estou agora mais esperto, e, constantemente, mudo minha aparência, o que me dá uma certa vantagem, e consigo sair da cidade antes que me encontrem.
Estamos em um constante, e perigoso, jogo de gato e rato.

***

Ao Chegar a sua casa, Nebo não se surpreendeu com o que viu.
Estava tudo remexido e quebrado. Sabia que o Chanceler mandaria alguém para procurar as provas. Olhando com mais cuidado, constatou o que já esperava. O grande cérebro havia desaparecido, assim como todos os computadores existentes e todas as mídias, mas ele estava tranqüilo, havia apagado todos os registros, não haveria provas de que ele se apropriou de informações particulares.
Seu plano parecia a principio, surtir efeito. Aparentemente o Chanceler acreditou que Nebo havia matado Lizi e, como não encontrou provas nos computadores retirados de sua casa, ficou como se tudo não passasse de um blefe da Lulu.
Dois meses se passaram, e a vida não estava fácil. A saudade maltratava os dois. Para Nebo, cada detalhe em sua casa trazia a imagem de Lizi. No esconderijo, Lizi tinha tudo o que precisava para sua sobrevivência, uma maquina para fabricar água, comida desidratada que os primeiros colonizadores trouxeram de Nibiru e muitos livros, mas a falta de Nebo era muito forte, a ponto de, por algumas vezes, pensar em enfrentar tudo e voltar para sua casa.
O que a impedia era o amor pelo filho que trazia em seu ventre, que estava crescendo e se desenvolvendo a ponto de já ser visível uma pequena saliência em sua barriga.
Gilgamesh não se encontrava em situação melhor.
Andou por toda Eridu, ouviu muitas conversas, salvou muitos Lulus e, a única certeza que conseguiu ter era de que, os Anunnakis eram realmente, seres detestáveis. Nammu, só era lembrada por alguns Lulus, mas sempre na forma de lamentações – Há, se Nammu ainda estivesse em Nippur! – Como era bom no tempo de Nammu! – entre outras. Ninguém, desta geração, havia visto Nammu, ninguém sabia como era sua imagem, se era um ser masculino ou feminino, Gilgamesh tinha até dúvidas que se tratava mesmo de um Anunnaki.

***

A noite estava muito escura.
Um vulto desceu de um veiculo desconhecido, e se dirigiu rapidamente para porta. O prédio está abandonado, sendo invadido pela vegetação. O vulto chega próximo a porta do prédio, que serviu de abrigo para os primeiros colonizadores de Nippur, ele veste uma longa capa com capuz.
Desconfiado, olha cuidadosamente em todas as direções, usa óculos de visão noturna. Certo de que ninguém o seguiu, abre a porta e, entra.
Do lado de dentro, Lizi acorda com o barulho da porta, e assustada, pega uma barra de ferro, que, estrategicamente, havia deixado à mão para eventualidades.
Ouve passos. Alguém se aproxima, ela ergue a barra acima dos ombros, seu coração dispara, pode senti-lo acelerado, sua boca está seca. Os passos se aproximam, descem as escadas que levam ao cômodo onde está escondida. O som dos passos fica mais próximo, até que, o vulto passa pela porta do quarto.
Lizi, sem titubear, desfere um golpe contra o intruso que consegue desviar-se, e segurando a barra de ferro, e fala:
- Calma Lizi, sou eu. Nebo!
Passado o susto, eles se abraçam e se beijam, matando a saudade de mais de dois meses. Nebo carinhosamente acaricia a barriga de Lizi, que esta linda, grávida. Ele conta para Lizi que o plano está indo bem e que alugara uma casa em um bairro afastado, para onde a levaria. Identificou-se ao proprietário como um mineiro, e que Lizi seria a Lulu que cuidaria da casa na sua ausência. Com esta desculpa, poderia visitá-la mais seguidamente, até conseguir se desvincular definitivamente de seu emprego.
Lizi continuava com o corte de cabelo que Nebo fizera, também manteve a cor. Estava sempre pronta, e ansiosa, para o dia em que ele viria buscá-la.
Saíram do esconderijo da mesma forma sorrateira que Nebo chegou. Precisavam ter cuidado, mas estavam felizes, pois estavam juntos novamente e prometeram que nunca mais passariam tanto tempo separados.

***

Desanimo. Esta é a palavra que define o humor de Gilgamesh, após estes quase dois meses de busca pelo que seria Nammu.
Sentado em frente a uma pequena fogueira, em seu esconderijo, preparando algo para comer, pensava em desistir de tudo, e voltar para natureza, encontrar seu irmão, e vagar, sem destino, como fazia quando sua mãe ainda era viva. Não estava mais suportando ter que viver neste inferno que chamam de cidade. Estava se sentindo um completo inútil, não se sentia capaz de salvar seu povo, seus poderes de ler pensamentos e ficar invisível eram inúteis, trocaria os dois por um pouco de capacidade.
Totalmente frustrado, largou-se em um canto, tentando dormir.

***

- Esta é o nosso novo lar! – Falou Nebo entusiasmado – Sei que não dá para ver direito, pois está escuro, mas é uma casinha bem agradável. E a vizinhança é bem tranqüila, formada por raros Anunnakis, que não costumam maltratar seus escravos Lulus, ou pelo menos, os maltratam bem menos que os demais.
A casa era realmente bem aprazível, apesar de pequena. Estava tudo limpinho e no lugar, com as prateleiras e o refrigerador bem cheios, Nebo havia se encarregado de tudo. Queria que Lizi tivesse a única missão, de cuidar de si mesma e de sua gravidez. Comeram alguma coisa, conversaram muito para colocar em dia as novidades, e foram dormir. Felizes, por poderem, novamente dormir juntos.

***

O encontro era, por segurança, sempre noturno.
O Chanceler queria evitar comentários desagradáveis e marcava as reuniões com o General de Defesa de Nippur sempre quando todos os outros funcionários do gabinete já haviam encerrado seu expediente.
- E então, minha estratégia deu certo? – Perguntou o chanceler com impaciência.
- Senhor – começou o General de Defesa de Nippur -, fizemos da forma que ordenou. Dividimos os soldados em dois grupos, demos bandeiras diferentes e os condicionamos a odiarem o grupo rival. Depois de um bom tempo de preparação e condicionamento, levamos os dois grupos para um campo, oferecemos recompensa para o grupo que aniquilasse o outro, em uma guerra particular, entregamos-lhes armas e demos ordens de ataque. Nem um tiro foi disparado!
- Como nenhum tiro foi disparado?
- Os Lulus recusaram-se a lutar, recusaram-se a matar os outros. Por mais que os odiassem, e pensassem que seu sofrimento era culpa do outro grupo, mesmo assim... não guerrearam!
- Inferno! – Gritou o Chanceler esmurrando a mesa. – Quem eles pensam que são, tem que nos obedecer!
- Senhor – falou o General de Defesa de Nippur -, pela minha grande experiência em treinamento de soldados, tenho absoluta certeza de que, deste espécime nunca sairão soldados. Certamente, quem possuir um exercito de Lulus, será facilmente aniquilado em uma guerra, porque, eles não irão reagir, preferem morrer, que lutar... e matar!