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CAPÍTULO 62

Fui obrigado a vender minha moto.
Fui até uma loja de veículos usados na cidade onde estava hospedado e fiz uma proposta ao vendedor. Inicialmente ele ficou cismado, já que, estava pedindo menos do que a moto valia realmente. Mas, logo que verificou a documentação, abriu um sorriso, porque, seria um bom negócio para ele. E ruim para mim.
Certamente não conseguiria comprar outro veiculo como aquele com o valor que vendi, mas, precisava vendê-la rapidamente.
De posse do dinheiro da venda, peguei um ônibus para outra cidade, bem longe, chegando lá, peguei outro para outra cidade, e assim o fiz por alguns dias, tentando apagar meu rastro. Quando senti que estava seguro, parei em uma cidade, onde, comprei o jornal local em busca dos classificados. Precisava adquirir outro veiculo e a melhor forma seria diretamente com o proprietário, desta forma, não precisaria preencher formulários, ou mesmo, me identificar, além do que, poderia pechinchar um desconto.

***

O Anunnaki é muito pesado. Muito mais que Gilgamesh imaginara.
Mas, ele precisava livrar-se do corpo. Sabia que os Lulus seriam punidos severamente se o encontrassem desta forma. Certamente, seriam considerados culpados.
Gilgamesh enrolou folhas a volta do desfigurado crânio para não pingar sangue na trilha. Estava muito preocupado com Agnish, ela não aprovou o que fizera, apesar de tê-la salvo de uma morte certa. Mas, depois falaria com ela, primeiro, precisava cobrir as pistas do assassinato e, já tinha um plano de como fazê-lo.
Finalmente chegou ao despenhadeiro que procurava. Já havia passado por ali, e sabia, era o lugar perfeito. Olhou hesitante para baixo, e viu, a vários metros, o caudaloso rio que impávido, desce o seu leito, rumo ao mar, repleto de ferozes e vorazes criaturas.
Era um plano perfeito. Ninguém acharia o corpo que, certamente seria devorado, não deixando rastro da verdadeira causa mortis. Para que soubessem da suposta queda, deixou um dos calçados do falecido próximo a encosta e, empurrou o corpo morro abaixo, fazendo questão em deslizá-lo pela terra, enquanto o empurrava, procurando dar a impressão que o Anunnaki sofreu um escorregão fatal durante uma perigosa caminhada junto ao despenhadeiro.
Livre do corpo, Gilgamesh voltou até o local da morte e, com muita água, lavou o gramado, removendo todo resquício de sangue ou quaisquer outras possíveis provas do assassinato. Depois, tomou um grande banho para limpar o próprio corpo, que estava sujo com o sangue do infeliz Anunnaki.
Constatando que todas as possíveis provas do que ocorreu estavam destruídas e ele próprio de banho tomado, pegou o cantil que Agnish esquecera, juntou a mais bela flor que encontrou, e seguiu para as plantações. Iria se entender com seu grande amor.
Nas plantações, porém, alguém chorava inconsolavelmente. As amigas tentavam acalmar Agnish, mas, todas dando razão para seu desespero.
- Gilgamesh não é como nós. Eu me enganei! – Falava Agnish soluçando com seu choro - Ele é um monstro, assim como os Anunnakis. Se vocês vissem a expressão de ódio em seu rosto, que, transformou-se em prazer ao ver o Anunnaki finalmente morto no gramado...
As amigas concordavam, algumas estavam chorando também. Agnish prosseguiu.
- Sei que ele me salvou. Que não estaria aqui se não fosse por ele, mas não precisava matá-lo... era apenas um jovem! Podia apenas assustá-lo, como já fez inúmeras vezes...
Gilgamesh estava ali parado, invisível, ouvindo o que Agnish falava, sem entender nada. O Anunnaki a iria matar. Se somente o assustasse, ele voltaria em outra oportunidade, eles sempre voltam. Agora ela estava segura, pelo menos em relação a este Anunnaki.
Ele não sentia remorsos, em seu intimo, sabia que o Anunnaki merecera e, se pudesse, faria o mesmo com todos eles. O comportamento de Agnish lhe pareceu estranho, como poderia não querer vingança? Como não ficara feliz em ver uma criatura tão perversa morta?
A idéia de ser comparado com um Anunnaki o encheu de asco, não era como eles. Jamais atacaria seres inocentes, somente pelo sádico prazer de machucar e matar. O que fez foi para defender quem ama, e faria tudo de novo se preciso fosse. Soube, neste momento, que seu relacionamento com Agnish chegara ao fim, pelo menos por hora. A melhor coisa a fazer é ir embora, voltar para sua busca. Deixá-la em paz. Quem sabe, com o tempo ela entenderia que o que fez foi por amor, e o perdoaria, quem sabe...
Deixou o cantil de Agnish encostado próximo ao abrigo dos Lulus. Sobre ele repousou, gentilmente a flor que cuidadosamente colheu e, com o coração partido, voltou para a sua busca. Voltou a tentativa de encontrar Nammu.

***

O local já era conhecido.
Lizi passara um bom tempo, sozinha, no antigo laboratório de informática de Nebo, nas instalações dos pioneiros. Agora, lá estava ela novamente, mas, desta vez era diferente. Desta vez, Nebo ficaria com ela.
- Aqui estaremos seguros! – Afirmou Nebo – Ninguém mais vem aqui!
E porque viria? Pensou Lizi.
Mas, apesar de ter ficado bem neste lugar, agora algo a preocupava. Não sentia-se segura, não sabia o que era, mas algo a incomodava. Nebo entrou com o restante das bagagens e, percebeu o semblante de preocupação dela.
- Você está bem Lizi? Parece tensa!
- Estou bem, só cansada. Meus pés estão inchados e doendo! – Falou dando um sorriso amarelo, tentando não transparecer sua preocupação – Só preciso deitar um pouco.
Nebo retribuiu o sorriso, deu um beijo em Lizi e falou.
- Vou esconder o veiculo, e já volto.
- Não era melhor se livrar dele de uma vez? Os veículos têm rastreadores!
- Eu sei. Por isso desativei o deste. Precisamos de uma forma de transporte, caso ocorra alguma emergência. Não esqueça da sua situação.
Não tinha como esquecer. Estava no sétimo mês de gravidez, mas, pelo tamanho de sua barriga, parecia que já passara do nono. Os Anunnakis são bem maiores que os Lulus e, para uma Lulu, gerar um hibrido, como Lizi estava percebendo, não era tarefa fácil.
- Já volto! – Falou Nebo saindo para esconder o veiculo.
- Nebo! – gritou Lizi ao que, Nebo voltou imediatamente.
- Diga, meu amor!
- Não demore! – Nebo deu um sorriso terno, e saiu.
Guardou o veiculo entre alguns arbustos, cortou outros e cobriu a parte que ainda aparecia. Olhou atentamente, de todos os lados, principalmente por cima do veiculo.
– Está perfeito, ninguém pode ver. Agora estamos seguros! – Falou para si mesmo.
Nebo não imaginava, o quanto estava enganado.