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CAPÍTULO 66

Houve uma época em que fiz trilha de moto.
Já faz muitos anos, mas ainda lembro-me dos principais macetes para pilotar uma moto na trilha. Deve ser como andar de bicicleta, a gente nunca esquece. Isso foi bastante útil nesta hora, apesar de não conhecer o caminho, ainda assim consegui abrir certa distância dos outros dois motoqueiros. Mesmo sem vê-los em meu retrovisor, decidi não parar e seguir até o final da trilha. Precisava escapar.
Minha intenção era, ao sair da trilha, seguir para a cidade mais próxima e esconder-me, esperando a poeira baixar para, novamente fazer com que percam minha pista.
A picada na mata é bem estreita e muito úmida, provavelmente nunca uma moto passara por ali. Mesmo assim eu estava mantendo uma boa velocidade, para falar a verdade, não fosse o risco de ser capturado, diria que estava me divertindo. Começava a pensar no porque parei de praticar este esporte.
Minha diversão, porém, durou somente mais alguns quilômetros, logo descobri, e da pior forma possível do porquê de não passar moto por aquela trilha. Simplesmente, porque, subitamente a trilha acaba, dando lugar a um enorme precipício.
Quando dei conta, já estava a poucos metros da borda. Ainda tentei frear, mas os pneus da moto deslizaram na trilha úmida. Em instantes estávamos, moto e eu, no ar, sentindo toda eficácia que a lei da gravidade pode proporcionar.

***

Aqui, na sua frente, está o jardim do EDEN.
Falou Nebo estendendo o braço, apontando em direção ao prédio que haviam acabado de sair.
- Aqui? Mas é só um dormitório! – Respondeu Gilgamesh, com dúvidas.
Na verdade, um grande dormitório abandonado há muito tempo. Havia muitas camas quebradas, colchões rasgados, portas arrancadas. Não tinha nada de “paraíso”, como os Lulus haviam mencionado. Parecia mais um alojamento e, estava abandonado há muitos anos.
– Você tem certeza Nebo?
- Sim, eu já trabalhava aqui em Nippur, naquele tempo. Toda esta estrutura fora criada para receber os Trabalhadores Primitivos. Aqui em volta havia um lindo jardim com plantas nativas, com parquinhos para os pequenos Lulus brincar, por isso era chamado de “jardim do EDEN”. Tudo era muito bonito, bem cuidado. Era muito melhor que os alojamentos dos Anunnakis, por isso provocou a sua inveja. Nammu planejou tudo com muito carinho...
- Quem planejou? – Interrompeu Gilgamesh afoito.
- Nammu! – Respondeu Nebo meio sem entender a reação de Gilgamesh.
- Você sabe o que é Nammu? – Falou desesperado Gilgamesh segurando Nebo pelo colarinho.
- Não é “o que é”, mas sim “quem é” Nammu! – Respondeu Nebo retirando as mãos de Gilgamesh de seu colarinho.
O coração de Gilgamesh deu um salto. Finalmente alguém que conheceu Nammu, e alguém que ele conhecia. Neste momento a visão que teve de sua mãe ficou ainda mais clara “Encontre os amigos”.
Justamente os poucos amigos que fez, sabiam da resposta, agora, tinha certeza de que precisava perdoar Enki. Mas, para isso, precisava primeiro encontrá-lo.

***

Era seu primeiro dia de aula.
A sala estava lotada, com certeza havia mais que simples alunos, todos queriam saber de sua aventura, saber sobre Nippur, e principalmente sobre os Lulus.
Tudo o que os Anunnakis sabiam sobre este assunto foi passado pela grandiosa propaganda do Chanceler, que possuía uma equipe de marketing somente para passar as “boas novas” para os Anunnakis que ficaram em Nibiru. Sua intenção era arrebanhar mais moradores para Nippur e, graças a esta propaganda, estava conseguindo. Inacreditavelmente, havia filas de espera para os interessados em morar no gelado planeta.
Nammu foi personagem principal em todo este processo, afinal, ela é a “mãe” do principal motivo que convencia os Anunnakis a mudar-se para Nippur, os Lulus. Ela era, agora, uma espécie de heroína de seu povo, uma jovem geneticista, que, longe da tecnologia de seu mundo e em curtíssimo espaço de tempo, criou um ser tão maravilhoso, que tirou todo o fardo de trabalhos pesados das costas dos Anunnakis, que agora poderiam levar uma vida confortável e fazer apenas o que tiverem vontade.
Isso pela propaganda do Chanceler, e ao menos em Nippur, já que os Lulus são proibidos, graças à lei ambiental, de serem importados para Nibiru.
A principio Nammu hesitou em aceitar o convite para lecionar genética na maior universidade de Nibiru, a mesma em que havia se formado. Sua vontade era escrever um livro contando tudo sobre o que fez em Nippur, toda a sórdida verdade, verdade que a consumia, com certeza seria um Best-seller. Mas, ela não estava interessada no dinheiro, queria apenas desabafar, contar a todos a verdade, mas, isso não era possível, ao menos, não por enquanto. Precisava mesmo era achar uma ocupação, pois, continuando desocupada, sabia que sua sanidade estaria comprometida.
A falta de seu pai, acumulado com o peso na consciência pelo que fez em Nippur a estavam jogando em um abismo perigoso, e muitas vezes sem volta, o abismo da depressão.
Precisava ocupar sua mente.
Ensinar aos mais novos além de gratificante, a manteria ocupada.
Tomou fôlego, falar em público sempre a deixava tensa, e começou a apresentar-se, apenas por formalidade, afinal de consta, era famosa. Infelizmente não pôde prosseguir com sua aula, vários Anunnakis levantavam avidamente suas mãos questionando-a sobre os Lulus. Certamente não eram alunos.
Nammu se vê sem ação, sabia que haveria questionamentos por parte dos alunos, e para estes estava preparada, mas não esperava que repórteres estivessem infiltrados, e eles sim sabem como levantar as informações que não devem ser reveladas.
Neste instante um Anunnaki bem vestido entra na sala e a retira confusão. Como se estivesse em transe por toda esta situação, ela é levada pelo Anunnaki, sem impor resistência, á sala do reitor, na qual entram, sem serem anunciados e o Anunnaki bem vestido, já sai falando:
- Isto é um absurdo, quem permitiu a entrada de repórteres?
- Quem é você? – Pergunta o reitor levantando-se de sua mesa – O que houve?
- Estou aqui em nome do Chanceler de Nippur. Enlil. Minha função é preservar a integridade da Doutora Nammu, uma grande cientista que mudou para sempre a colonização de Nippur e a retirada do precioso minério, tão necessário à vida em Nibiru. Ela não deve ser exposta e este constrangimento!
Nammu ficou perplexa, não sabia que Enlil enviara um guarda-costas para “preservá-la”, nem aceitaria se soubesse, mesmo que estivesse agradecida por tirá-la daquela sala.
- Eu cuido da minha vida! – Gritou Nammu, interrompendo a discussão dos dois – Avise ao seu patrão que pode ficar sossegado, desde que, deixe-me viver em paz!
- O que está havendo aqui? – Perguntou perplexo o reitor.
- Este assunto não é do seu interesse senhor reitor. – Respondeu rispidamente o “protetor de Nammu” – O que é de seu interesse, é que, a Doutora Nammu não irá mais lecionar em sua instituição!
- Vou sim. - Gritou furiosa Nammu - Quem é você para falar o que devo ou não fazer?
- Muito bem – falou calmamente o enviado do Chanceler –, não podemos mandar em sua vida doutora. Poderá continuar com as aulas se esta é a sua vontade, porém, caso surja mais algum repórter infiltrado em sua aula, o Chanceler responsabilizará pessoalmente o senhor reitor, que arcará, seriamente, com as consequências!

***

- Você nunca me falou que conhecia Nammu! – Falou Gilgamesh a Nebo.
- Você nunca perguntou. Sempre falava de sua busca pela imortalidade, mas nunca falou que procurava a Doutora Nammu.
- É... eu soube dela depois de sair de sua casa... – falou Gilgamesh pensativo – Doutora Nammu você falou? Mas afinal, quem é Nammu?
- Nammu é uma grande Engenheira genética em Nibiru, foi ela quem desenvolveu seu espécime, em um laboratório que, aliás, ficava aqui próximo. – Nebo apontou em uma direção – Conheci o primeiro de vocês, seu nome era Adapa. Apesar de seu nascimento ter sido noticiado com alarde pela CPC, como uma nova fase na colonização de Nippur, foi um projeto altamente secreto, tanto sua criação, como seu desenvolvimento e amadurecimento. Mas, um dia, sem querer, acabei conhecendo-o, antes que os demais Anunnakis.
E, este dia, ficará marcado para sempre em minha memória!