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CAPÍTULO 67

Minha moto está totalmente destruída, e eu, poderia estar também.
Se acreditasse em destino, diria que algo está me salvando para terminar a tradução das Tábuas de Nippur. Como não acredito, penso que tenho que tomar mais cuidado ou, terei uma vida muito curta.
Pendurada no barranco há uma solitária árvore, sobre a qual acabei caindo. Minha queda foi amenizada pelos seus galhos folhudos, e só sofri alguns arranhões, porém minha moto não teve a mesma sorte e se espatifou no chão abaixo. A árvore na qual estou agora, desesperadamente agarrado, balança perigosamente, a mim, parecia que suas raízes iriam soltar-se do barranco a qualquer momento. Abaixo podia ver o chão, a uns 20 metros. A queda a partir da árvore se não for fatal, pelo menos irá me causar muitas lesões.
Como nada está tão ruim que não possa piorar, comecei a ouvir o ronco de motores de motos e, sabia perfeitamente de quem eram.

***

Mais um dia de aula, a professora chega à sala, mas, estranhamente Adapa não está presente.
Um sentimento de surpresa se abateu, pois Adapa demonstrava gostar muito das aulas. Era extremamente curioso, sempre formulando muitas perguntas sobre todos os assuntos, mas principalmente sobre a história e a cultura dos Anunnakis o que, lhe parecia interessar muito. A professora decide falar com os geneticistas, e descobrir o motivo da falta de seu único aluno. Para sua surpresa, eles também não sabiam de Adapa, que deveria estar na aula.
Preocupados, foram eles, geneticistas e professora, procurá-lo em seus aposentos. A aflição começou a tomar conta de todos, pois Adapa também não estava lá. Procuraram pelo laboratório e nada – Adapa havia sumido!
Em pouco tempo a noticia do sumiço de Adapa se espalhou pelos poucos Anunnakis que formavam o embrião de cidade. A CPC noticiou, pedindo para que todos colaborassem com as buscas. Poucos já tinham visto Adapa, mas, certamente reconheceriam se o vissem.
Enquanto todos procuravam por Adapa, Nammu desconfiou de algo que fez com que ficasse ainda mais preocupada. Um pensamento ruim lhe veio à cabeça. Se havia alguém que poderia lhe fazer algum mal, este alguém era Anzu. Ela era testemunha da aversão de Anzu pela criação do Lulu Amelu, não faria sentido matá-lo, pois outros estavam sendo criados, e ele sabia disso, mas para atingi-la, ele bem que seria capaz. Nammu não perdeu tempo e foi imediatamente procurar Anzu em seu alojamento.
- Onde está ele? – Falou Nammu furiosamente, entrando sem bater no quarto de Anzu.
- Ele quem? – Perguntou Anzu com cara de desentendido.
- Adapa. O que você fez com Adapa?
- O que eu faria com Adapa?
- Você sempre foi contra a sua criação, de todos neste planeta, você é o único com motivos para matá-lo!
Anzu deu uma enorme risada de desdém.
- Venha comigo, estressadinha! – Falou calmamente Anzu, largando o livro que estava lendo e levantando em direção à porta.
Os dois saíram da área de alojamento e se dirigiram ao prédio onde estava o CPD, local de trabalho de Nebo. Anzu abriu a porta, e apontou. Nammu teve uma surpresa enorme. Levou suas mãos a boca e disse espantada:
- O que está acontecendo aqui?
Várias emoções tomaram conta de Nammu ao mesmo tempo. Um misto de alivio, alegria, com uma pitada de raiva e, principalmente, um enorme orgulho. Estavam a sua frente Nebo e Adapa jogando vídeo-game. A raiva que sentia por Adapa não a ter avisado, sumiu frente ao orgulho que ela estava sentindo. Sua criação apresentou o mesmo comportamento que um adolescente Anunnaki comum, com suas necessidades de fuga, e seu ímpeto para sair da rotina, fazer o que realmente sentia vontade, ir contra as regras.
- Ele é ótimo! – Falou alegremente Nebo olhando fixamente para o jogo – Não havia encontrado ninguém neste planeta que fosse páreo, Adapa é muito bom...

***

- E foi assim que conheci Adapa, o primeiro Lulu Amelu, criado em laboratório, pela Doutora Nammu. – Termina Nebo a sua história – Ele foi um grande Lulu Amelu. Depois disso, jogamos varias vezes juntos.
- E o que aconteceu com ele? – Perguntou Gilgamesh.
- Ele morreu!
- Está vendo! – Falou empolgado Gilgamesh, apontando com o dedo para Nebo - Isso que não faz sentido. Se ela o amava como uma mãe, porque o criou mortal? Porque não o criou imune as doenças, e as dores? Porque não foi assim para todos os Lulu Amelus? Isso não faz o menor sentido...
- Eu concordo com você, mas, deve haver um bom motivo – concluiu Nebo – e... somente Nammu poderá explicar qual é!

***

Já de volta ao seu apartamento, Nammu, ainda está perplexa com o ocorrido. Sabia que o Chanceler a iria monitorar de perto, e por isso mesmo, ficou profissionalmente inativa por um bom tempo. Mas precisava trabalhar, ocupar sua mente. Sentir-se útil.
Preparou um chá e deitou-se em sua poltrona preferida. Sua caninea Bell deitou ao seu lado, pedindo carinho e, foi atendida com prazer por Nammu. Lembrou-se do dia em que retornou a Nibiru, logo após a criação dos Lulu Amelus.
A espaçonave de transportes de passageiros pousa no espaço porto de Nibiru, Nammu está a bordo. As portas se abrem lentamente, e a expectativa de todos aumenta. Lá fora as famílias esperam ansiosas pelos seus, que ficaram fora por pelo menos dois anos de Nibiru, trabalhando no gelado planeta Nippur.
Nammu não tem esta expectativa. Sabe que não haverá ninguém a esperando. Seu pai era seu último parente, e agora, estava morto, morreu em um horrível acidente. Ela vai até a porta, olha para o céu. Já estava com saudades deste incrível céu amarelo ouro, não havia sol – não há sol em Nibiru. A temperatura esta amena para os padrões de Nibiru, apenas 34 graus, mas bem melhor que a temperatura média de Nippur.
O que ela não imaginava era que estava sim sendo esperada.
Uma multidão de repórteres a aguardava e, tão logo ela desceu da espaçonave, foi assediada por todos os lados. Todos estavam ansiosos por noticias, todos queriam saber sobre os trabalhadores primitivos. Nammu não conseguiu dar nenhum passo, estava cercada por repórteres ávidos por uma boa matéria, ela ficou estática, não imaginava esta recepção, e não sabia como livrar-se deles.
Seu apuro em meio aos repórteres foi resolvido pela guarda real, que por meio de sua habitual truculência, afastou os repórteres e formou uma barreira Anunnaki em torno de Nammu, que foi então escoltada a um veiculo previamente preparado para levá-la.
- Preciso pegar minha bagagem e minha caninea! – Gritou para o motorista já dentro do veículo.
- Acalme-se senhora - responde o motorista -, suas coisa serão entregues no hotel!
- Eu não vou para nenhum hotel. Vou para minha casa!
- infelizmente não será possível, sua casa está cercada de repórteres e de curiosos. Precisamos preservá-la.
Os protestos de Nammu foram formalmente ignorados pelo motorista, que também era membro da guarda real, por isso, bem treinado. Ele a levou por um caminho longo que passava pelo centro da cidade, informou que seu destino era um hotel afastado do centro, longe da imprensa e dos curiosos.
Durante o trajeto, Nammu foi observando a cidade, parecia tudo igual, nada havia mudado. O transito, as pessoas apressadas, pedintes... - Nibiru nunca muda – pensou consigo mesma.
- Chegamos Senhora. – Falou o motorista, tirando Nammu de seus pensamentos – O hotel é aqui!
Levou algum tempo para que a coisas de Nammu fossem entregues, sua preocupação maior era com Bell, na verdade não era sua Bell original, a qual ela havia levado para Nippur, mas um clone dela. Era costume entre os Anunnakis repetir o mesmo nome para os filhotes de seus canineus. Desta forma sentiam menos a sua morte, já que o tempo de vida dos pobres animais era insignificante.
Como Geneticista, Nammu sabia quão simples era criar um canineus imortal, assim como eles, mas não podia. Por isso criaram paliativos, como o uso do mesmo nome para toda uma geração de animais de estimação. Desta forma, sentiam menos a perca da mascote querida.
Não muito depois de receber suas bagagens, a portaria do hotel a informa que tem uma visita a esperando. É o assessor pessoal do Chanceler Enlil. Nammu estranhou a visita e, pelo que conhecia do Chanceler, não era uma visita de boas vindas.
- Como vai doutora? – Cumprimentou efusivamente o assessor.
- Estaria melhor se estivesse em minha casa! – Respondeu secamente Nammu.
- Esta foi uma medida para seu próprio bem estar, agora você é famosa doutora!
- A que devo a sua visita? – Falou Nammu, tentando encurtar a conversa.
- Bem – começou o assessor -, vim em nome do Chanceler, para reiterar o acordo firmado em Nippur.
- Sou uma pessoa de palavra, pode tranquilizar seu patrão. O trato está mantido!
Nammu sabia que seria a maior prejudicada se falasse algo. O que fez em Nippur feria a severa lei ambiental, escrita e sancionada pelo Rei Anun logo após sua posse, após salvar toda vida de Nibiru de uma hecatombe quase certa.
Somente por uma desconfiança, o próprio Rei Anu, filho de Anun, teve o trabalho de ir pessoalmente à Nippur para destituir o Chanceler de seu cargo, e prende-lo. Mas, graças a sua lábia conseguiu convencer o Rei da necessidade do que fizeram. Certamente omitiu muitos detalhes, se não fosse assim, não teriam perdão, e Enlil, Nammu e toda sua equipe, estariam agora presos, aguardando uma provável pena de morte na prisão de Charak.
Este é, certamente, o medo do Chanceler, medo que Nammu não consiga se conter e revelasse toda verdade. Uma verdade perigosa, principalmente, para os envolvidos na criação dos trabalhadores primitivos, na criação dos Lulu Amelus.