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CAPÍTULO 71

O helicóptero estava executando vários rasantes.
O homem que estava à porta da aeronave olha ao redor atentamente e, de tempos em tempos usa um binóculo para ver melhor os detalhes. Por alguns instantes a aeronave ficou planando onde está o que restou de minha moto. O lugar é repleto de arvores nativas, acho que é mata atlântica. Minha moto pode ser parcialmente vista através das copas das árvores. Para minha sorte, não existe uma clareira para pouso, e por isso, fica a duvida, se estou ou não morto junto com meu veiculo.
Não tendo grandes informações, o helicóptero se retira. Não sei ao certo o que vão fazer, mas desconfio que farão uma ação por terra, afinal, precisam recuperar os decalques que, felizmente, ainda estão às minhas costas, dentro de minha mochila.
Não esperei para ver a próxima ação de meus perseguidores, sei que, tão logo não encontrem meu corpo, farão uma busca pela floresta. Saí imediatamente de traz do arbusto que me escondia, e segui para o lado onde achei, seria mais difícil ser localizado.
Andando pela floresta, lembranças de minha infância vieram à cabeça. Fui criado no interior, em um sitio. Havia lá uma floresta como esta, onde eu passava o dia, muitas vezes, só retornando a minha casa para dormir. Era muito divertido e agora, será de grande valia.
Sei bem como sobreviver neste ambiente úmido de mata do sul do Brasil. Sei como encontrar alimento e água e, apesar do frio, a roupa a prova de chuva que comprei para andar de moto, me manterá seco e aquecido, mesmo sem ter como acender uma fogueira. O canivete existente em meu chaveiro, que ganhei de um aluno e que, por alguma razão levo sempre comigo, agora, finalmente terá utilidade.
No primeiro dia não parei, segui, me guiando pelo sol sempre em uma mesma direção, só parei alguns segundos para tomar fôlego e um pouco de água que empossam nas folhas de algumas árvores nativas. Esta é uma regra básica para quem está perdido: - Seguir sempre em linha reta! – É muito comum, em um ambiente semelhante, como uma floresta, ou um deserto, que, nosso corpo penda para nosso lado dominante, no meu caso, lado direito. Isso nos faz, inevitavelmente, andar em círculos. Por isso precisamos nos guiar por um ponto fixo que esteja fora do ambiente, como o sol, estrelas ou montanhas visíveis.
Aprendi isso, por experiência própria, durante minhas incursões de infância.
Quando começou a anoitecer, achei prudente preparar um lugar para pernoitar. Procurei um local mais elevado, para não ficar totalmente exposto à umidade. Consegui alguns galhos com folhas, com os quais me cobriria, não pelo frio, mas, como camuflagem. Já me escondi muito na mata, principalmente, quando pegava sem autorização, frutas no pomar dos visinhos de sitio.
Vendo meu abrigo pronto, agora preciso encontrar algo para comer, estou com fome. Cortei, com muito sacrifício, já que o canivete não está afiado, uma palmeira, que encontrei próximo. Retirei seu talo, que é macio, muito saboroso e nutritivo, conhecido comercialmente como palmito. Havia muitos anos que não o comia assim, em natura, geralmente o palmito é vendido em conserva. Comendo este quitute nativo de nossas matas, comecei a filosofar em como a ganância humana e interesses econômicos mesquinhos estão levando a extinção produtos maravilhosos que nos são oferecidos de graça pela natureza e o palmito é um exemplo clássico.
Como a palmeira demora muitos anos para se formar, e como, comercialmente, “tempo é dinheiro”, poucos são os casos de plantações sustentáveis desta planta. O produto que chega a nossa mesa, na maioria das vezes, vem através de uma extração ilegal e inconseqüente que certamente ocasionará a extinção desta planta de forma bastante precoce, muito provavelmente, as gerações futuras saberão do palmito através de livros, onde haverá fotos e descrições de uma exótica planta extinta. Falarão do palmito, da mesma forma que hoje falamos do extinto pássaro Dodô.
É realmente uma pena que o ser humano ainda não tenha evoluído suficiente para manter a sua vida sem acabar com a natureza. Bem, talvez jamais alcancemos este grau de evolução, talvez, não tenhamos esta capacidade.
Já alimentado, dormi em meu esconderijo improvisado, realmente, estou exausto.

***

- O exercito de Lulus está fora de cogitação!
Como de costume, o Chanceler Enlil está em seu computador escrevendo notas que o ajudam a resolver problemas. Esta técnica já se mostrou perigosa, com o vazamento de informações graças a Nebo, o informático. Felizmente, para Enlil, ele tem novamente o controle da situação, e Nebo, juntamente com sua Lulu, estão mortos e as informações recuperadas, pelo menos, é o que ele sabe. O problema agora é outro, e bem maior.
- Convencer os Lulus a guerrear... Motivação... Ódio...
- Estou cercado de incompetentes! – Falou Enlil consigo mesmo – Nem meu General de Defesa tem a competência suficiente para motivar seu exercito a lutar. Preciso achar uma solução...
Suas anotações nunca falham e, ele tem uma grande idéia. Chama a sua secretária.
- Pois não senhor. – Fala ela ao entrar no gabinete.
- Sente-se, por favor. – Responde o Chanceler, apontando a poltrona a sua frente – A senhora deve lembrar-se da reunião que fiz com os principais Anunnakis de Nippur, para resolver o problema de insubordinação dos Lulus.
- Sim senhor, eu lembro.
- E a senhora foi quem deu a principal idéia, idéia esta, que colocamos em prática com grande êxito. Devido a isso todos os Anunnakis de Nippur lhe são gratos.
- Foi um prazer ajudar.
- Me diga uma coisa – fez uma pausa -, pelo seu conhecimento de psicologia, a senhora acha viável um tratamento psicológico, que influencie até as próximas gerações.
- Como assim senhor?
- Veja bem, temos que, o tempo todo, castigar os Lulus e lembrá-los que enviaremos seus familiares às aralis, caso nos desobedeçam. Será que, poderíamos ter um tratamento mais forte, que, gradualmente, de geração para geração, conseguíssemos imputar uma nova forma de os Lulus pensarem e agirem?
- Certamente senhor. Eu estava lendo uma matéria de um grande psicólogo Anunnaki que conseguiu maravilhas com tratamento a longo prazo em crianças Anunnakis. Crianças que, com absoluta certeza, seriam grandes perdedores, profissionais derrotados, conseguiram, com este tratamento, tornarem-se grandes empresários e profissionais, dispostos a tudo para serem bem sucedidos, não importando a que custo. E, como o senhor sabe, isto é muito valorizado em nossa cultura.
- Hummm! – Respondeu Enlil colocando sua mão no queixo – E o nome deste psicólogo, a senhora lembra?
- Claro, seu nome é Namtar!
- Por favor, consiga que eu fale com este psicólogo, com urgência. Antes mesmo, de a primeira espaçonave decolar de Nibiru.

***

O dia clareou em Nippur. Os três dirigiram-se ao EDEN para incendiá-lo.
Resolveram esperar o amanhecer, para que a claridade das chamas não fosse visível, possivelmente chamando a atenção.
Dentro do prédio, estavam os cadáveres dos Anunnakis, comparsas de Kalkal. Gilgamesh olhou para os dois, e não pode evitar em olhar para Lizi. Ela estava com a mesma expressão de Agnish, quando ele matou o Anunnaki que tentou violentá-la. Durante toda a noite, ouviu Nebo tentando em vão, convencer-la que foi preciso que, ou eram os Anunnakis ou eles, e seu filho, mas, assim como Agnish, Lizi também não aceitava as mortes.
Gilgamesh não conseguia entender esta atitude por parte dos Lulus. Ninsun, sua mãe, sempre o ensinou que, somente deveria matar outro ser vivo, para servir de alimento, desde que não houvesse desperdício, mas, para ele, o tratamento com os Anunnakis deve ser diferente, afinal, eles são inimigos.
Antes de atear fogo, Gilgamesh olhou bem para todos os detalhes do lugar. Queria poder passar para todos o que vira no lugar em que os Lulus foram tratados dignamente, no paraíso em Nippur, o EDEN. Infelizmente, tudo o que via era um amontoado de entulhos de um dormitório coletivo, nada que pudesse ser chamado de “paraíso”, como os Lulus se referiam a ele.
Virando-se em direção ao casal, que estava próximo a porta de saída, notou algo que não havia notado anteriormente. Do lado esquerdo da porta, há um mural, protegido com um vidro. Dentro dele, existem dois papeis escritos. O primeiro é pequeno e parece um informativo, o segundo é maior e se assemelha a uma lista. Gilgamesh aproximou-se para poder ler o que estava escrito. Vendo sua atitude, Lizi e Nebo também aproximaram do mural para ler os papeis afixados.
Para Nebo, não foi novidade, porem para Lizi e Gilgamesh, o que estava escrito os deixou fortemente impressionados.